Está começando por Santa Catarina a operacionalização do negócio que colocará a Philip Morris Brasil à frente da produção e beneficiamento de parte do tabaco que utiliza para abastecer a fábrica de cigarros de Santa Cruz do Sul. Anunciada em junho, a verticalização prevê que a companhia assuma até o fim do ano um conjunto de ativos – imóveis, carros e equipamentos – e 17 mil contratos com produtores integrados da Alliance One e da Universal Leaf Tabacos. Cerca de 200 novos funcionários deverão ser contratados para atuar no setor que a Philip Morris está entrando agora.
Perto de 70 técnicos já foram chamados nas cidades catarinenses de Maravilha e Araranguá. Ativos das duas fumageiras no Estado vizinho também foram adquiridos, mas a Philip Morris não divulga os detalhes. Os contatos com os produtores que já a partir da safra 2010/2011 plantarão diretamente para a cigarreira também estão sendo feitos. A implantação formal dos acordos da Philip Morris com as duas principais fumageiras, que mesmo assim continuarão como fornecedoras da multinacional, depende apenas da autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ligado ao Ministério da Justiça.
Na semana passada a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), endossada pela Secretaria de Direito Econômico (SDE), emitiu parecer favorável ao negócio da Philip Morris com a Universal Leaf. O entendimento é de que o acordo não comprometerá a concorrência no setor de beneficiamento de tabaco. “Há várias empresas dedicadas à atividade de processamento do tabaco no Brasil que estabelecem relacionamento direto com inúmeros fumicultores. Dessa forma, a quantidade de folhas que irá diretamente para o processamento da Philip Morris não afeta o mercado de produto in natura que abastece o mercado de tabaco processado”, concluíram os técnicos.
O Cade ainda não tem previsão de quando votará em caráter definitivo o processo das duas empresas, mas a tendência é que o parecer emitido na semana passada seja acatado. O documento ao qual a Gazeta do Sul teve acesso é taxativo ao concluir que “não há, em decorrência da operação, possibilidade de fechamento do mercado”. Somente depois da homologação do Cade é que tanto a Philip Morris quanto a Universal Leaf e a Alliance One deverão detalhar os valores envolvidos no negócio e como será, por exemplo, o recebimento do tabaco que irá direto para a cigarreira.
Saiba mais
•• No processo encaminhado ao Cade, as empresas justificam que a verticalização “reduzirá os riscos relativos à gestão de safras, permitindo maior eficiência e melhorias, em termos de qualidade e segurança, no abastecimento do tabaco processado, insumo significativo para a produção de cigarros e produtos correlatos”.
•• Conforme a Philip Morris, a produção que passará a ser controlada pela empresa representa 25% de sua demanda. Ou seja, as principais fumageiras em operação no Sul do Brasil continuarão fornecendo o produto à multinacional.
•• No ano passado as 186 mil famílias produtoras de tabaco colheram, nos três estados do Sul, 739 mil toneladas, o que gerou uma receita de R$ 4,4 bilhões. Com a entrada da Philip Morris na aquisição direta de tabaco dos agricultores a empresa passará a comprar aproximadamente 33 mil toneladas a cada ano, o que corresponde a 4,5% da safra total.
•• Ao passar para a Philip Morris em torno de 8,5 mil contratos com fumicultores, a Universal Leaf Tabacos reduzirá sua produção em aproximadamente 20%. Hoje a empresa possui em torno de 40 mil integrados, volume semelhante ao da Alliance One, outra empresa envolvida na negociação com a Philip Morris.
(Por Igor Müller, Gazeta do Sul, 09/08/2010)