Estudo publicado no periódico Conservation Letters agrupa pela primeira vez dados do desmatamento e das mudanças climáticas e alerta que se as atuais tendências persistirem até 81% da Amazônia estará em processo de degradação em 2100
Pesquisadores do Departamento de Ecologia Global da Universidade de Stanford reuniram mapas de alta resolução com dados do desmatamento de todo o planeta e projetaram o futuro das florestas tropicais diante de 16 diferentes modelos climáticos.
A conclusão a que eles chegaram foi que em 2100 até 81% da Amazônia estará suscetível a rápidas transformações na sua vegetação pelo efeito combinado do clima e do uso da terra. Já as florestas do Congo terão até 74% de sua área ameaçada e as da Ásia-Pacífico 77%.
“Esta é a primeira compilação dos impactos dessas forças combinadas nas florestas tropicais”, afirmou Gregory Asner, líder do grupo de autores do estudo.
O pesquisador ainda destacou que os resultados encontrados podem ser utilizados para o estabelecimento de estratégias para minimizar a perda da biodiversidade.
“Para aquelas áreas do globo com a perspectiva de sofrer mais com as mudanças climáticas, os gestores da terra podem se focar em evitar o desmatamento e ajudar as espécies a migrarem ou se adaptarem. Já onde o aquecimento global não será tão sentido, poderiam ser incentivados mais programas de reflorestamento”, explicou Asner.
Brasil e o Código Florestal
Não precisamos ir até 2100 para ver que as nossas florestas estão em risco. Segundo os dados mais recentes sobre o desmatamento da organização não governamental Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a Amazônia voltou a perder área em junho.
Os satélites registraram 172 quilômetros quadrados (km²) de desmate, aumento de 15% em relação a junho de 2009.
O Pará liderou o desmatamento no mês, com 115 km² de floresta derrubada (67% do total de junho), seguido pelo Amazonas, com 22 km² de desmate, e por Mato Grosso, que perdeu 18 km² de vegetação nativa.
Faltando um mês para completar o calendário oficial do desmatamento, que vai de agosto de um ano a julho do outro, o Imazon aponta tendência de aumento na devastação da floresta. No acumulado entre agosto de 2009 e junho de 2010, o desmatamento detectado pela ONG foi de 1.333 km². A soma é 8% maior que a registrada no período anterior (agosto de 2008 a julho de 2009), quando a devastação medida foi de 1.234 km².
Muitos temem que essa situação pode ficar ainda pior se for aprovado o novo Código Florestal. A edição do último dia 16 de julho da Science trouxe uma carta escrita por seis pesquisadores brasileiros na qual o grupo alerta a comunidade científica internacional para os riscos oferecidos pela proposta de reforma do Código Florestal brasileiro, atualmente em trâmite na Câmara dos Deputados.
Na opinião dos signatários, se for aprovada da forma como foi apresentada, a matéria representará um “revés ambiental” de proporções irreversíveis para o país.
Segundo o documento, em nenhum momento a comunidade científica brasileira foi ouvida durante o trabalho de formulação da proposta de reforma do Código Florestal. “Esta é uma das nossas reivindicações. Queremos uma discussão mais ampla, que contemple não apenas os cientistas, mas a sociedade de modo geral”.
Além do engajamento de pesquisadores de diversas universidades e instituições científicas, o movimento conta também com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC). Assinaram a carta: Carlos Alfredo Joly, Thomas Lewinsohn Jean Paul Metzger, Luciano M. Verdade, Luiz Antonio Martinelli e Ricardo R. Rodrigues.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 06/08/2010)