O cultivo de soja e de tabaco transgênicos para a elaboração de medicamentos poderá se tornar realidade nas lavouras brasileiras. Pesquisas desenvolvidas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, avaliam a produção de moléculas que atuam no tratamento de doenças como o câncer e a Aids. As plantas são consideradas biofábricas da engenharia genética. Elas funcionam como meio para a produção em escala de moléculas, o que pode acontecer tanto na semente quanto nas folhas.

A proposta é que os agricultores diversifiquem sua atividade e dediquem parte da lavoura para fins medicinais. Esse processo pode permitir um tratamento mais acessível aos pacientes. "Produzir assim é muito mais barato. A soja precisa apenas de água e nutrientes, enquanto no laboratório é preciso usar equipamentos", explica o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Elibio Rech. Para ele, esta será uma alternativa para que os produtores tenham mais renda no campo, embora ainda não seja possível determinar quando isso será realidade. As pesquisas estão em sintonia com temas a que têm se dedicado pesquisadores em todo o mundo.

Os experimentos são conduzidos em estufas para que tenham melhor rendimento e controle. De acordo com o pesquisador, entre os estudos mais promissores está o de uma proteína usada para produzir hormônios do crescimento humano por meio da soja. "O material obtido na estufa é funcional, mas ainda não sabemos quando poderá ser usado pela indústria." A cultura foi escolhida por não ter dispersão de pólen e pelo domínio tecnológico dos pesquisadores. Além disso, a soja acumula e produz proteínas, o que dá condições para a geração das moléculas. A pesquisa reúne 600 plantas.

Outro estudo, com tabaco busca produzir o CTAG, molécula utilizada para medicamentos no combate a vários tipos de câncer, como de mama, ovário, estômago e útero. A pesquisa está em andamento há dois anos e já identificou que em alguns casos 5% da proteína contida na semente é do tipo contra o câncer. As equipes ainda trabalham com plantas transgênicas de soja e fumo para obter proteína para a produção de um gel vaginal, que poderá proteger as mulheres do vírus HIV. A substância cria uma espécie de película na célula do vírus que impede que ela se replique.

(Por Marcela Caetano, Correio do Povo, 07/08/2010)