O avanço da tecnologia diminuiu o tempo de uso dos aparelhos eletrônicos. Com a modernização cada vez mais acelerada dos equipamentos, novos modelos de computadores, celulares e televisores são lançados a todo momento, estimulando os consumidores a se manterem atualizados com as novidades tecnológicas.
Entretanto, paralelo ao crescente consumismo, a sociedade ainda carece de um sistema específico para o recolhimento do lixo eletrônico. O problema já foi apontado pela Gazeta do Sul no mês de março, mas o destino destes materiais continua sendo uma dificuldade encontrada pela população. Sem saber onde descartar uma máquina de lavar, a funcionária pública Natália Panta entregou o eletrodoméstico para um catador de lixo. Há cerca de um mês, ela voltou a acumular equipamentos eletrônicos sem utilidade em sua residência. “Tenho um micro-ondas estragado e não sei mais como proceder para me desfazer”, lamenta.
A falta de uma estratégia para tratar o assunto faz com que o Brasil seja um dos maiores produtores de lixo eletrônico do mundo. Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cada brasileiro joga fora cerca de meio quilo desse tipo de resíduo em um período de 12 meses. O Programa Nacional das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgou, no início do ano, que a produção de lixo eletrônico aumenta cerca de 40 milhões de toneladas por ano.
Segundo o secretário do Meio Ambiente de Santa Cruz do Sul, Alberto Heck, estão na fase final as tratativas para colocar em prática um sistema de recolhimento dos equipamentos tecnológicos. Heck reconhece que a situação é preocupante, e garante que o governo municipal irá adotar medidas para dar fim aos resíduos tóxicos. “Somos conhecedores do impacto ambiental e dos danos à saúde que o lixo eletrônico pode causar, por isso organizamos uma estratégia de coleta e reciclagem, mas que, por enquanto, está numa etapa burocrática”, explica o secretário.
Para a execução do projeto, o município firmou convênio com a empresa IZN Recicle, de Porto Alegre, que será responsável pelo recolhimento do lixo. O próximo passo será a vistoria do local escolhido para funcionar como ponto de coleta – um pavilhão com cerca de 2,4 metros quadrados em um local ainda não divulgado pela Prefeitura. “Os aparelhos eletrônicos deverão ser encaminhados para o pavilhão e, mensalmente, serão recolhidos por uma transportadora contratada pela empresa”, adianta Heck. No mesmo local, as borracharias poderão entregar pneus usados. O material será recolhido pela Reciclanip, empresa de São Paulo especializada neste tipo de reciclagem. “O transporte ocorrerá na medida em que forem coletados dois mil pneus de carros de passeio e 300 pneus de caminhões de carga, medida mínima necessária no estoque”, complementa o secretário.
Heck afirma que ambos os projetos estarão em pleno funcionamento na segunda quinzena do mês. Enquanto isso, a população santa-cruzense conta com iniciativas isoladas para o descarte do lixo eletrônico. O Programa Amigos da Água promove com frequência atividades para divulgar práticas ecologicamente corretas, entre elas o recolhimento de aparelhos tecnológicos.
A empresa Ecolog Serviços Ambientais disponibiliza, em diversos pontos do município, coletores ecológicos para recolher pilhas, baterias e outros componentes eletrônicos. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3056 2395. Os materiais também podem ser entregues no galpão do Movimento Nacional dos Catadores, que vende o lixo para a reciclagem. Os componentes não aproveitáveis são encaminhados para empresas especializadas. O galpão fica na Rua Dona Carlota, 2075.
Poluição
Veja os malefícios que os elementos utilizados nos equipamentos eletrônicos podem causar à saúde:
•• Chumbo – usado em TVs, celulares e computadores, causa danos cerebrais, neurológicos e renais, doenças no sangue e comprometimento de fetos. Em altos níveis de exposição causa vômito, diarréia, convulsões, coma e morte.
•• Mercúrio – usado em lâmpadas, displays, telas LCD, chaves e circuitos impressos. Altos níveis de exposição contribuem para danos cerebrais, renais e problemas de desenvolvimento de fetos, podendo contaminar o leite materno e os peixes. A sua ingestão ou inalação causa danos ao sistema nervoso central e aos rins.
•• Cádmio – usado em baterias de celulares, resistores, detetores de infra-vermelho, semicondutores, tubos de TV antigos e alguns plásticos. Sua concentração no organismo é cumulativa e pode causar problemas de rins, danos na estrutura óssea, além de ser cancerígeno.
•• Arsênico – usado em celulares. Causa doenças de pele, prejudica o sistema nervoso central e pode causar câncer de pulmão.
•• Berílio – usado em placas-mãe de computadores e celulares. Causa câncer de pulmão.
•• Cromo hexavalente – usado na proteção de placas metálicas contra a corrosão. Causa bronquite asmática e deformações do DNA.
•• Plásticos e PVC – constituem, em média, 20% do material dos computadores, usados em circuitos impressos e componentes como conectores, gabinetes e cabos. São difíceis de serem separados na reciclagem e, quando queimados, produzem substâncias tóxicas que, se inaladas, causam problemas no aparelho respiratório.
•• Retardante de chamas (BRT): causam desordens hormonais, nervosas e reprodutivas.
(Gazeta do Sul, 05/08/2010)