Mais uma denúncia reacende a discussão em torno dos aditivos utilizados na produção de cigarros. Pesquisa divulgada ontem pelo Comitê Nacional para a Prevenção ao Tabagismo na Espanha (CNPT) revelou que os cigarros fabricados hoje usam metade do ‘tabaco autêntico’ que era utilizado há 40 anos. No lugar do tabaco, os fabricantes acrescentam de 400 a 600 substâncias que tornam o cigarro mais ‘viciante’.
No documento, o CNPT também ressalta que “nicotina pura é menos viciante que o tabaco vegetal”. Ou seja: se os cigarros não tivessem os aditivos, seria mais fácil se livrar do vício.
“A grande maioria das marcas de cigarro usa aditivos que amenizam o gosto ruim e mascaram as substâncias tóxicas”, explica a técnica da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Cristina Perez.
Segundo a pesquisa, muitos dos produtos adicionados ao cigarro não oferecem isoladamente grandes riscos à saúde. Mas, no processo de combustão, podem tornar o cigarro mais viciante.
É o caso do açúcar, que se transforma em acetaldeído. A substância, além de ser cancerígena, potencializa os efeitos da nicotina. Já o mentol, usado em cigarros com sabores, aumenta o PH da nicotina, causando mais efeito no cérebro.
“Quase metade dos adolescentes que fumam optam por cigarros mentolados. Entre as mulheres, o índice também é altos. Se fossem proibidos os aditivos, muitos jovens deixariam de experimentar”, diz Perez.
A denúncia do CNPT também destacou a falta de fiscalização do cigarro. Segundo o órgão, não há lei que regule o uso de aditivos. A única medida existente seria em relação aos níveis admitidos de alcatrão, nicotina e monóxido de carbono.
Produtos podem perder o ‘sabor’
Proposta da Organização Mundial de Saúde (OMS) pode evitar que 50% dos jovens brasileiros com até 19 anos deixem de experimentar cigarros, como foi divulgado mês passado. A medida, que pretende banir ingredientes como saborizantes e açúcares dos cigarros, será discutida pela Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, em novembro, no Uruguai.
Sem os aditivos, praticamente todas as marcas teriam o mesmo sabor, mais forte e desagradável. E, segundo Cristina Perez, muitas pessoas deixariam de fumar.
“Uma pesquisa recente revelou que 90% dos fumantes começam a fazer uso de cigarros antes dos 19 anos. A maioria por causa do sabor. Quando falamos em evitar o tabagismo, estamos focando, principalmente, nos adolescentes”, explica a profissional.
Perez não acredita, no entanto, que a medida vá fazer com que os dependentes diminuam a quantidade de cigarros consumidos por dia.
“Precisamos interromper a iniciação ao tabaco. Se as substâncias que amenizam o gosto ruim do cigarro forem retiradas,muitos jovens vão deixar de experimentar”, conclui.
(POR CLARISSA MELLO, O Dia, 03/08/2010)