Uma denúncia levou fiscais do Ministério do Trabalho do Tocantins a uma carvoaria nas proximidades de Palmas. Lá eles encontraram irregularidades como funcionários sem carteira assinada, sem salário e morando em condições precárias.
Os trabalhadores ficam bem próximos ao fogo durante a produção do carvão. Sem nenhum equipamento de segurança, eles entram nos fornos com chinelo de dedo, bermuda e até sem camisa.
“Eu fico aqui dia e de noite. Nem dormi de noite eu não durmo que é a gente que olha. É eu que olho os fornos aí. Nem dorme de noite porque tem que tá vindo olhar toda hora”, reclamou o carvoeiro Rodrigo Brito da Silva.
A água que eles usam para o banho e para beber sai do poço. “Já tiremos rato de lá de dentro. Os que tá morto nós tira e joga pra lá. O que tá vivo nós deixa ele ir embora”, contou o carvoeiro, Antônio Barbosa da Silva.
A carroceria do caminhão é onde eles passam a noite. “É complicado você dormir num lugar desse aí. É frio. É poeira que a gente pega”, disse o carvoeiro João Batista dos Santos.
A carvoaria fica a apenas 40 quilômetros do centro de Palmas. Há seis meses, trabalhadores de Minas Gerais e do interior do Tocantins foram levados para o lugar cá com a promessa de um salário de R$ 1,2 mil. Alguns foram embora e os seis que ficaram disseram que nunca receberam nenhum dinheiro.
Para comer, tiveram que abrir uma conta no bar que fica a oito quilômetros da carvoaria. “Eu servi eles aqui porque se eu não tivesse servido eles, eles passavam fome mesmo. Eles tinham passado fome porque não tinham de onde comer”, explicou Gregório Valdino, dono do bar.
Após receber denúncia, o Ministério Público do Trabalho foi até a carvoaria e descobriu que os trabalhadores também estão sem Carteira de Trabalho assinada.
“São irregularidades gravíssimas que eu acredito que possam caracterizar sim trabalho degradante. Por o empregador não ter cumprido com os seus deveres legais, há também incidência de dano moral coletivo em relação à afronta que essa atitude causou aos interesses sociais em geral”, esclareceu Mayla Mey Friedriszik, procuradora do Trabalho.
O advogado da empresa negou o que as imagens confirmam. “Desde 2004 que as empresas daqui do Tocantins mandam carvão para Minas Gerais e para o Maranhão. Nunca houve qualquer deslize das empresas de carvão, inclusive dessa”, defendeu José Carlos Linhares.
(Globo Rural, EcoDebate, 03/08/2010)