Discutir as investidas das mineradoras na região Norte do Estado de Minas Gerais. Esse é um dos objetivos do Encontro sobre Impactos da Mineração, que acontece nos dias 3 e 4 de agosto na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Porteirinha (MG). A intenção é reunir lideranças das comunidades da região para debater sobre os grandes projetos de mineração e unificar as forças em defesa de um projeto popular.
"Quais as obras e os investimentos que estão sendo feitos na região? Quais os impactos provocados nas comunidades?". Essas serão algumas perguntas que deverão ser respondidas pelos participantes durante os dois dias do encontro. De acordo com Helen Borborema, comunicadora popular da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA Minas) através do STR de Porteirinha, a expectativa é que cerca de 40 lideranças de organizações sociais compareçam ao evento.
"A ideia do encontro é dialogar com as organizações populares da região, fazer o diagnóstico [sobre a situação da atividade mineira] e discutir o que podemos fazer", afirma. A preocupação maior gira em torno da possibilidade de exploração de ouro por uma empresa canadense, a Carpathian Gold.
Segundo Helen, a transnacional já conseguiu a autorização para realizar estudos para o planejamento da exploração em Porteirinha e Riacho dos Machados. Após esse passo, a empresa ainda precisará das licenças de instalação e de exploração para concretizar a atividade. Mesmo assim, o clima é de apreensão. "Não há conversa com a comunidade. A empresa chegou para conversar e persuadir os moradores isoladamente, sem conversar com as lideranças", aponta.
As empresas que querem explorar as áreas mineiras, assim como em outros grandes empreendimentos desenvolvimentistas, utilizam a geração de emprego como principal ponto para conseguir a adesão das populações e autoridades locais. "As empresas prometem emprego e progresso que são temporários, somente pelo tempo que passa no local. Em contrapartida, há a fragilização social", comenta.
Exemplo disso é o que ocorre em Riacho dos Machados. De acordo com a comunicadora da ASA, o município não possui asfalto nem saúde de qualidade. "Lá, nem parto faz", revela, ressaltando que as organizações populares não são contra a geração de trabalho. "A gente defende a geração de emprego, mas um emprego que gere vida, educação, saúde, permanência no campo", declara.
Não é primeira vez que as comunidades passam por essa situação. A comunicadora popular revela que a região já foi explorada por vários anos pela Vale. "A Vale do Rio Doce explorou há muitos anos. Agora a empresa canadense vem para explorar com novas tecnologias", comenta.
Desigualdade social, poluição das águas e deslocamento de pessoas são apenas alguns impactos gerados pela atividade na região. "As empresas só querem saber do lucro", desabafa, lembrando que a retirada de trabalhadores e trabalhadoras rurais do local gera uma "fragilização social".
Helen explica que os trabalhadores rurais são segurados especiais da Previdência Social, condição que garante uma série de benefícios, como aposentadoria e auxílio-doença. Entretanto, tais benefícios poderão ser perdidos quando os produtores saem do campo. "Há a possibilidade também de o trabalhador rural ir para a cidade e não conseguir se adaptar", lembra.
(Por Karol Assunção, Adital, 02/08/2010)