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código florestal
2010-08-02 | Tatianaf

A edição do último dia 16 de julho da Science, uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo, trouxe uma carta escrita por seis pesquisadores brasileiros, dois deles do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. No texto, o grupo alertava a comunidade científica internacional para os riscos oferecidos pela proposta de reforma do Código Florestal brasileiro, atualmente em trâmite na Câmara dos Deputados. Na opinião dos signatários, se for aprovada da forma como foi apresentada, a matéria representará um “revés ambiental” de proporções irreversíveis para o país.

Assinam a carta acolhida pela Science os professores Carlos Alfredo Joly e Thomas Lewinsohn, ambos do IB-Unicamp. De acordo com este último, que é presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (Abeco), a iniciativa dá sequência ao movimento que pesquisadores e entidades científicas nacionais deflagraram logo que a proposta de reforma do Código Florestal foi apresentada. O objetivo da ação é chamar a atenção dos parlamentares e da opinião pública em geral para os equívocos contidos na matéria e os riscos que ela oferece.

Conforme Lewinsohn, um dos primeiros pontos que precisam ser esclarecidos é o que ele classifica de “falsa polarização” entre os que teriam visões progressistas e retrógadas sobre o agronegócio. “Na realidade, isto não existe. Não se trata de defender a preservação da natureza em detrimento das demandas sociais e econômicas do país, como os que advogam em favor da reforma querem fazer crer. Nós não estamos defendendo uma visão estreita de conservação da natureza. O que estamos fazendo é oferecer uma crítica mais ampla a um projeto que não atendeu aos requisitos mais elementares de preservação, dentro do conceito de sustentabilidade”, afirma.

O que está sendo discutido na Câmara dos Deputados – a matéria está prestes a ir a plenário -, prossegue Lewinsohn, tem potencial para trazer consequências gravíssimas não apenas para as áreas de florestas, que poderão dar lugar a novas faixas de produção agrícola, mas também para outros biomas, como cerrados e áreas de várzeas, para ficar em apenas dois exemplos. O docente do IB esclarece que não é verdade que a agricultura brasileira está sufocada pela legislação ambiental e muito menos que o país corra o risco de desabastecimento de alimentos caso as fronteiras agrícolas não avancem sobre as florestas.

Lewinsohn assegura que não faz sentido expandir a agricultura nessas bases, visto que diversos estudos indicam, inclusive alguns elaborados pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da USP, que é possível dobrar a atual produção agrícola sem desmatar um metro quadrado sequer de florestas ou áreas de preservação. “A adoção de técnicas mais eficientes já proporcionaria esse avanço. Uma das alternativas viáveis seria adensar o gado no campo, o que liberaria novas e amplas áreas para o plantio de culturas”, diz.

Ainda segundo o docente da Unicamp, em nenhum momento a comunidade científica brasileira foi ouvida durante o trabalho de formulação da proposta de reforma do Código Florestal. “Esta é uma das nossas reivindicações. Queremos uma discussão mais ampla, que contemple não apenas os cientistas, mas a sociedade de modo geral”. Além do engajamento de pesquisadores de diversas universidades e instituições científicas, o movimento conta também com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC). Também assinam a carta publicada pela Science os seguintes pesquisadores: Jean Paul Metzger, Luciano M. Verdade, Luiz Antonio Martinelli e Ricardo R. Rodrigues.

(Por Manuel Alves Filho, Portal Unicamp, EcoDebate, 02/08/2010)


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