O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou, conforme publicado pela Agência Brasil, que os produtores rurais são os que mais preservam a agricultura no País. Entretanto, na mesma entrevista o ministro destacou a importância de investimentos na chamada floresta plantada, que tem como uma das áreas mais promissoras o plantio de eucalipto.
Segundo Rossi, o governo tem estimulado práticas de não agressão ao meio ambiente, mas é preciso “ter os pés no chão”. Para ele, as florestas plantadas diminuem a agressão em florestas naturais. “São as florestas de eucalipto que, com financiamentos específicos, despertam o interesse de empresários”.
A afirmação deixou produtores rurais e ambientalistas preocupados. Primeiro porque no Estado é o eucalipto um dos principais responsáveis pelo desmatamento de exemplares da mata atlântica no norte do Estado. Segundo, porque, além de desmatar, os plantios de eucalipto em larga escala poluem o solo e as águas e empregam apenas uma pessoa a cada 30 hectares, o que gera a migração do homem do campo para as cidades. E isso, na prática, gera um impacto sobre a produção de alimentos, ao contrário do que o ministro afirma ser resultado dos planos do governo.
O ministro destaca ainda a importância de investimentos na chamada floresta plantada, enquanto os produtores rurais, responsáveis, segundo ele, por preservar o meio ambiente no País, há anos cobram regularização fundiária, crédito e extensão rural, políticas agrícolas e florestais, licenciamentos e zoneamentos, isenções fiscais, abastecimento, entre outras providências, sem sucesso.
No Estado, por exemplo, a luta é exatamente dirigida em sentido contrário ao que defende o ministro. As comunidades quilombolas do Sapê do Norte estão reconvertendo áreas antes degradadas pelo monocultivo de eucalipto da ex-Aracruz Celulose (Fibria) para a produção de alimentos sem o uso do agrotóxico.
Além de buscar o resgate de suas raízes, os negros estão também replantando espécies nativas de mata atlântica e reelaborando táticas tradicionais e experimentando novas técnicas de manejo.
Só na comunidade de São Domingos, 13 hectares estão sendo reconvertidos com apoio de pequenos agricultores e indígenas do Estado com o objetivo de trazer de volta a agrobiodiversidade, onde antes predominavam a cultura de larga escala e o manejo químico responsável pelo empobrecimento e contaminação do solo e das águas da região.
Ao todo, mais de três mil mudas de espécies frutíferas e nativas da mata atlântica já foram plantadas na região. Alimentos como melancia, abóbora, quiabo, maxixe, coco, manga, jaca, cajá e banana livres de agrotóxicos já estão sendo consumidos pelos quilombolas e populações tradicionais da região através de trocas intercomunitárias que promovem a preservação e o resgate da tradição regional.
A reconversão das terras empobrecidas após 40 anos de exploração da ex-Aracruz Celulose (Fibria) é um dos maiores desafios das 32 comunidades quilombolas no Estado.
Das 12 mil famílias que habitavam o Sapê do Norte, apenas 1,2 mil resistiram à expropriação de terras promovidas com a chegada do eucalipto da ex-Aracruz Celulose (Fibria). Nada menos que 90% migraram para as periferias urbanas da região norte do Espírito Santo e mesmo para a região metropolitana de Vitória.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 30/07/2010)