Barulheira na rua irrita moradores do entorno
Um ano depois, a publicitária Gisele Kyrillos, não fumante, lista as vantagens: não chega em casa com os cabelos com cheiro de cigarro, não volta com a roupa defumada e, grávida de cinco meses, pode ir a bares e restaurantes sem se preocupar.
Um anos depois, o engenheiro Paulo Rabelo, fumante, lista as desvantagens: tem de pagar a conta quando sai para fumar, é visto com desconfiança, como potencial infrator, e tem o maço confiscado em algumas boates.
"Quando havia uma área de fumantes eu não ficava isolada do cigarro. Se tivesse engravidado antes da lei teria mais dificuldade de comer fora e sofrido muito para sair de casa", afirma Gisele.
"Sou tratado com discriminação. Tem lugares que tenho de deixar o cigarro na mão do segurança e pedir de voltar quando vou fumar, é constrangedor", diz Rabelo.
A lei antifumo também teve reflexos em quem não toma partido entre fumantes, não fumantes e donos de bares. Moradores vizinhos de casas noturnas reclamam do barulho nas calçadas na madrugada -que não existia-, da sujeira de bitucas na ruas e da cortina de fumaça na porta dos estabelecimentos.
"É um inferno, as pessoas perdem a noção e conversam alto a noite inteira na rua, há um ano durmo mal nos finais de semana", reclama a professora Ana Guimarães, vizinha de bares no Itaim.
Não demorou para que os fumódromos virassem pontos de paquera e de negócios -e não só para quem está ali fumando. Agora, quem se conhece na pista logo vai para a área de fumantes, onde pode conversar longe do som alto.
"Conheci meu atual namorado assim. Ele me paquerava ao mesmo tempo que tratava de negócios com um cliente", conta a estudante de marketing Maíra Ribeiro.
O Astronete, uma das casas noturnas em que mais se fumava, teve de lavar as cortinas de veludo para tirar o cheiro de cigarro impregnado no ambiente.
"A mudança foi radical. Ganhamos uma clientela a mais, gente que não saía por causa da fumaça. Não adianta brigar, é uma tendência no mundo inteiro, as pessoas têm de se acostumar", diz o dono, Cláudio Medusa, que trabalhava de barman em Nova York quando a lei de lá entrou em vigor, em 2003.
(Folha de São Paulo, 01/08/2010)