No Instituto de Zootecnia (IZ-Apta), em Nova Odessa, as pesquisas são feitas com bovinos, para avaliar e quantificar a emissão de metano. Segundo o pesquisador João José Assumpção de Abreu Demarchi, foi adaptada, há dez anos, a tecnologia de quantificação do gás gerado pelos bovinos. “Mais de 95% dos gases emitidos pelos ruminantes saem pelo arroto. Como esse metano é gerado no rúmen é chamado de metano entérico”, explica. “O boi transforma a energia do alimento em carne, leite e movimento. De 4% a 16% dessa energia perdida pelo animal vira metano.”
Por meio de convênio com a US Environmental Protection Agency (EPA), o método de quantificação foi adaptado do modelo americano para as condições de criação a pasto do Brasil, segundo a pesquisadora Magda Aparecida de Lima, da Embrapa Meio Ambiente.
Óxido nitroso. O próximo passo é comparar as emissões não só de metano, mas de óxido nitroso – que está relacionado à urina e fezes dos animais – e de gás carbônico em diferentes sistemas de produção. “Vamos fazer um balanço entre emissões de gases do efeito estufa e sequestro de carbono no solo pelas pastagens, por exemplo”, diz Magda.
Demarchi diz que é importante, ao avaliar o sistema produtivo, considerar o processo de forma completa, não só sob critérios pontuais. Por exemplo: um animal que come um pasto novo, com alto valor nutritivo, vai aproveitar melhor esse alimento e gerar menos metano por quilo de matéria seca ingerida do que um animal que come um pasto velho, pobre em nutrientes.
Porém, como o capim é de boa qualidade, o boi vai comer mais do que o outro. O que pode haver nesse caso é uma compensação, com dois animais consumindo alimentos diferentes e emitindo metano em quantidades semelhantes.
A diferença, porém, é que o animal que come melhor ganha peso mais rápido, é abatido mais cedo e o total de metano produzido em sua vida produtiva será menor. “É preciso analisar o processo. Mais adequado é calcular quanto de metano é produzido por quilo de carne produzida.”
Criação intensiva. Cabe ao produtor, portanto, investir na intensificação da produção para reduzir a produção individual de metano pelo animal. “Investir em uma dieta equilibrada pode reduzir em até 30% as emissões de metano”, garante Demarchi. Isso significa dar à pastagem tratamento de lavoura, com análise de solo, adubação, pastejo rotacionado, ajustando a lotação animal e colheita no ponto certo. “Um capim bem manejado pode sequestrar carbono e ajudar nessa equação.”
Para comprovar, tese de doutorado defendida em 2007 no Instituto de Química de São Carlos/USP constatou que um pasto bem manejado de Brachiaria decumbens pode armazenar até 223 toneladas de carbono; esse capim ocupa 80 milhões de hectares no País.
“Onde o manejo foi mais intensivo o sequestro de carbono foi maior”, completa o pesquisador Ladislau Martin Neto, da Embrapa Instrumentação Agropecuária.
Emissões – Quanto a agricultura contribui:
16% na emissão de CO2 é a participação da agropecuária, antecedida pelos setores de energia (58%) e processos industriais (22%).
70,5% na emissão de CH4 vem da agropecuária, cujas maiores emissões vêm de ruminantes (64,4%)
(Por Fernanda Yoneya, O Estado de S.Paulo, EcoDebate, 30/07/2010)