Foi usando o chapéu típico da maior festa de Santa Cruz do Sul que Lula recebeu dados da principal fonte de riqueza da região. O presidente conversou com lideranças do setor fumageiro instantes antes de embarcar no helicóptero que o levaria de volta a Porto Alegre, após a visita realizada ontem à Cooperativa Mista dos Fumicultores do Brasil (Cooperfumos), em Capão da Cruz Oeste. Ele determinou, na hora, que as questões envolvendo o tabaco sejam encaminhadas para avaliação em três ministérios.
O helicóptero presidencial aterrissou no Autódromo Internacional de Santa Cruz às 14h55. A comitiva logo seguiu para o Centro de Formação e Produção de Alimentos e Energia São Francisco de Assis, estrutura mantida pela Cooperfumos e situada atrás do autódromo, às margens da nova RSC–471. Lula foi até lá a convite do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), para conhecer a produção de biodiesel e etanol desenvolvida no local.
Inicialmente agendado para logo após o desembarque, o encontro com a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Sindicato da Indústria do Tabaco (Sinditabaco) e Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Fumo e Alimentação (Stifa) foi adiado para evitar maiores atrasos na agenda – a chegada do presidente estava prevista para 14h30. Após visitar as dependências da Cooperfumos e participar de um ato público, o presidente falou rapidamente com as lideranças do setor fumo. A conversa ocorreu a poucos metros do helicóptero, faltando menos de dez minutos para o fim do prazo para a decolagem, estipulado pela Aeronáutica com base na incidência de luz solar. Lula recebeu a comitiva já usando um chapéu da Oktoberfest, presente de Ido Dupont, presidente da festa.
“Esperávamos o presidente no alto da torre de comando do autódromo, mas fomos orientados a descer devido ao pouco tempo. Apesar disso, conseguimos repassar as informações”, relatou Romeu Schneider, presidente da Câmara Setorial do Tabaco. Schneider e Benício Werner, presidente da Afubra, abordaram a importância do fumo no sustento de famílias do interior. “Falamos ao Lula que, só nos três estados do Sul, mais de 187 mil famílias dependem do tabaco”, contou Werner.
O presidente do Stifa, Sérgio Pacheco, citou os 20 mil empregos gerados na cidade pela indústria fumageira, que também fomenta setores como alimentação, transporte e segurança. Além da geração de emprego no campo e cidade, Norberto Kliemann e Valmor Thesing, vice-presidentes do Sinditabaco, falaram dos aspectos econômicos do fumo, que representou 2% dos embarques brasileiros em 2009, gerando divisas de US$ 3,02 bilhões.
O grupo demonstrou preocupação com as restrições ao tabaco e com a possível proibição da mistura de ingredientes no cigarro, sugerida pelos artigos 9 e 10 da Convenção-Quadro. Se o Brasil adotar a medida, encerraria a produção do fumo do tipo Burley, usado nas misturas. Estima-se que 50 mil famílias dos três estados do Sul sobrevivam do plantio do Burley.
Lula determinou, na hora, o encaminhamento dos gráficos para o estudo da questão nos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Agricultura e de Desenvolvimento Agrário. O despacho, dado ali mesmo, impressionou Benício Werner. “O presidente se mostrou bastante atencioso e ágil”, avaliou.
Para Schneider, com os gráficos os ministérios da Agricultura e da Indústria e Comércio Exterior deverão ratificar seu posicionamento, já contrário à proibição das misturas. “Ao receberem o material, com a ordem de Lula, deverão confirmar sua postura”, avaliou. Também há expectativa quanto à posição do outro ministério, que ainda não se manifestou oficialmente.
CONHECIMENTO
Por sua vez, a prefeita Kelly Moraes confirmou suas impressões de que Lula conhece a importância do setor. “Com os dados que recebeu, o presidente vai ratificar sua opinião. Ele sabe o que o fumo representa”, disse. Outro prefeito que falou com Lula sobre o assunto foi Airton Artus, de Venâncio Aires. Ele entregou documento onde ressalta a arrecadação obtida com o setor. “As prefeituras também precisam do tabaco”, comentou.
(Gazeta do Sul, 30/07/2010)