No início desta semana (26), cerca de 450 camponeses e atingidos por barragens ocuparam a hidrelétrica Foz do Chapecó, situada no rio Uruguai, na divisa dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os manifestantes reivindicam que o grupo CPFL, formado pelas empresas Votorantin, Bradesco e Camargo Correa cumpram com as promessas feitas durante as discussões sobre a construção da barragem.
Houve forte presença policial na manifestação e a força de segurança chegou a jogar granadas contra as famílias. No entanto, não houve feridos e o confronto foi encerrado antes que pudesse desencadear uma situação mais grave.
"Aconteceram vários despejos, várias injustiças, e além disso os pescadores que viviam do trabalho no rio Uruguai não estão sendo reconhecidos como atingidos pela hidrelétrica Foz do Chapecó", explicou Evanclei Farias, da coordenação do Movimento de Atingidos por Barragens - MAB.
Além disso, no final do mês de junho, o Ministério Público Federal (MPF) decidiu que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não poderia emitir a Licença Ambiental da Operação (LAO) da hidrelétrica, já que mais de 60% da vegetação ainda não havia sido retirada da área onde se formará o lago da barragem.
De acordo com informações do MAB, a não retirada desta vegetação provocará grandes impactos ambientais, sobretudo quanto à qualidade da água. Outro agravante é que na jusante (lado para onde desce a água da maré vazante), o rio Uruguai ficará com vazão bastante reduzida em um trecho de mais de 23 Km.
Para Evanclei, a manifestação iniciada ontem conseguiu chamar a atenção, pois na próxima quinta-feira (29), o Ibama, o Ministério de Minas e Energia, representantes da hidrelétrica Foz do Chapecó e membros do MAB estarão reunidos em Brasília, Distrito Federal, no Ministério de Minas e Energia para debater as reclamações dos atingidos pelas obras da hidrelétrica Foz do Chapecó.
"Entre as principais reclamações dos atingidos por barragens, será colocado durante a reunião a necessidade de uma nova área para reassentar as famílias despejadas, o reconhecimento dos pescadores como atingidos pela hidrelétrica, acesso ao lago da barragem, crédito para as famílias e a criação de um projeto de desenvolvimento regional", pontuou Evanclei.
A hidrelétrica atingiu diretamente uma média de 2.500 famílias, sendo que cerca de 300 famílias não foram contempladas com nenhum dos benefícios prometidos durante as discussões para a construção da barragem. Além da ausência de condições para continuar a vida em outras terras, a obra não desenvolvimento prometido pelas empresas e causou desestruturação econômica, social e ambiental.
As famílias acampadas próximo ao canteiro de obras da hidrelétrica não impediram o andamento das obras, apenas atrasaram o andamento impedindo a entrada de matéria-prima. Cerca de 70 famílias permanecerão mobilizadas até que sejam informados os resultados da reunião da próxima quinta-feira. Caso as definições não sejam positivas, os atingidos deverão se reunir em assembleia para decidir como devem dar prosseguimento à luta por moradia e condições dignas de vida.
(Por Natasha Pitts, Adital, 28/07/2010)