A sede da Índia por energia solar transformou as terras inóspitas do deserto Thar em uma tomada elétrica em potencial, com grandes promessas para empresas do setor e para um país às voltas com cortes regulares de eletricidade.
"Vou abrir meu próprio hotel", disse Vijay Singh, um homem que acaba de ganhar US$ 60 mil após vender parte de sua fazenda, um pedaço de terra seco e empoeirado.
O deserto Thar ocupa um território de 200.000 quilômetros quadrados na região noroeste da Índia.
E como explica o especialista PC Pnda, do Central Arid Zone Research Institute, no Estado do Rajastão, sol é algo que não falta no local.
"Aqui na região temos radiação solar em abundância. Mais de 300 dias de sol por ano, nove horas por dia".
Recentemente, o governo indiano lançou sua Missão Solar Nacional, um plano de US$ 19 bilhões cuja meta é gerar 20.000 megawatts de eletricidade solar por volta de 2022.
No momento, a energia solar contribui com uma pequena fração disso --menos de 1%.
ABUNDÂNCIA
Segundo um vendedor de imóveis da região, Multan Parihar, a terra local pode ser usada para produzir energia solar.Mas não é apenas o sol que está atraindo o governo e investidores ao Rajastão. A área também possui o que grandes projetos energéticos precisam: terra.
"Nessa área, tem muita terra do governo disponível e terra privada também", disse Parihar.
Segundo ele, nos últimos tempos, o Rajastão se tornou um bom lugar para se fazer negócios imobiliários. Preços em algumas regiões triplicaram nos últimos seis meses.
"As pessoas não usam a terra para agricultura, o lugar é desolado. Mas pode ser usado para produzir energia solar".
A revolução solar no deserto Thar deve ter início em breve, quando uma das maiores empresas de energia da Índia, a Reliance Industries, ativar sua usina solar de cinco megawatts na cidade vizinha, Khimsar.
DEMANDA
Projetos envolvendo energia são prioritários se a nação quiser manter seu grande crescimento econômico, segundo grandes empresários indianos.
"A indústria de manufatura está diretamente associada à energia", disse Hari Bhartia, um dos mais bem-sucedidos empresários do país, dono de um império que envolve produtos farmacêuticos, energia e varejo.
"Não acho que você pode construir uma indústria manufatureira a menos que tenha um suprimento estável de energia. Energia faz parte do crescimento econômico".
Mas apesar de estar envolvido na operação de campos de petróleo e gás na Índia, Bhartia não pretende investir no deserto.
"Hoje, esses projetos solares são movidos principalmente por subsídios governamentais. A longo prazo, essas tecnologias precisam ficar auto-suficientes".
Apesar da cautela de alguns, o fazendeiro Singh está confiante de que cidades barulhentas vão surgir na terra solitária que um dia foi sua. E um número constante de técnicos em energia solar vai querer se hospedar em seu hotel.
(BBC Brasil, Folha.com, 27/07/2010)