O governo boliviano quer aproveitar a experiência brasileira para reconstruir a estatal nacional e elevar a produção de energia hidrelétrica, que atualmente gira em torno de apenas 1% do total de 40 gigawatts estimados para o potencial hídrico do país. A afirmação foi feita pelo vice-ministro de Eletricidade e Energias Alternativas da Bolívia, Roberto Peredo Echazú, para quem a produção de energia deverá atender prioritariamente as necessidades bolivianas antes de se pensar em exportação.
"Parte desse potencial está situado na fronteira com o Brasil. O mercado natural levaria ao Brasil", frisou Echazú, para quem a experiência da Eletrobras será "muito importante" para a retomada da Empresa Nacional de Eletrificação (Ende), estatal boliviana do setor que foi nacionalizada em 1º de maio deste ano, a partir da junção das quatro empresas privatizadas na década de 90. "A Ende foi desmantelada. Agora os (dois) governos têm braços executores", acrescentou.
O vice-ministro, que participou do Seminário Internacional de Integração Energética Bolívia-Brasil, realizado pelo Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ponderou que o tratado assinado este ano entre Brasil e Peru, que prevê estudos para a construção de até 5 hidrelétricas com capacidade total de 7 mil MW pode servir de base para uma aproximação entre os dois países no âmbito de uma política de integração energética.
O diretor de operações no exterior da Eletrobras, Sinval Gama, destacou que as negociações entre Brasil e Bolívia terão que respeitar as necessidades da Ende, mas adiantou que a estatal brasileira está preparada para iniciar rapidamente estudos sobre possibilidades de integração energética. Segundo ele, a expansão da companhia para o exterior segue a lógica de boas oportunidades e não de necessidades de fornecimento do Brasil.
"O Brasil não está precisando de energia de outros locais. O Plano Decenal (elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética) não conta com nenhum megawatt de outros países", destacou, fazendo questão de afastar os temores de que a expansão da companhia pudesse estar associada a perdas e riscos para os países vizinhos. "Poderemos ser vistos não como tubarões e sardinhas, mas como dois tubarões", pontuou.
Para o vice-ministro boliviano, o principal interesse do governo de Evo Morales é desenvolver fontes limpas, como a eólica e a solar, além da hídrica.
(Por Rafael Rosas, Valor Online, O Globo, 26/07/2010)