O Instituto Jones Santos Neves (IJSN) informou ao jornal A Gazeta a criação de 150 mil vagas de emprego conseqüentes de 972 projetos no Estado, até 2014. O anúncio, segundo especialistas, faz parte da estratégia para criar condições favoráveis à instalação das empresas, quando, na verdade, cerca de 60% das vagas são destinadas apenas para a fase de instalação dos empreendimentos - o restante exige capacitação que o capixaba não detém.
Segundo o Instituto, das 150 mil vagas, 48,3 serão geradas pelo 3° ciclo de desenvolvimento do Estado (petróleo, gás, projetos industriais e construção civil), ou seja, grandes poluidoras que visam a se instalar ou promover expansões no Estado (Vale, ArcelorMittal, Jurong, Ferrous, Petrobras, ex-Aracruz-Celulose/Fibria e Samarco Mineração S/A).
O anúncio faz parte do processo de sedução das empresas que, na prática, oneram o Estado e empregam em sua maioria trabalhadores terceirizados provenientes das mais diversas partes do País.
Segundo o Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico (Cdemec), conforme publicado em A Gazeta, o Estado não possui mão de obra capacitada para ocupar as vagas e, neste caso, as empresas trarão trabalhadores de outros estados.
A internacionalização da economia capixaba deixou de fora não apenas a capacitação de sua população, mas também a sua qualidade de vida.
Beneficiadas com o advento da Lei Kandir, que desonerou as exportações, as indústrias como Vale, ArcelorMittal, Samarco Mineração S/A e ex-Aracruz Celulose (Fibria) não refletem em ganhos na arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), principal tributo do Estado, cujas empresas são isentas.
A chegada das grandes indústrias também não é positiva quando relacionada ao Produto Interno Bruto (PIB). Como estas indústrias estão ligadas as commodities e aos produtos semielaborados, o Estado arrecada pouco devido aos inúmeros benefícios fiscais concedidos.
Portanto, além de não empregar, as empresas acabam onerando os cofres públicos, já que adquirem créditos de ICMS, que acabam sendo utilizados até para liquidar os impostos devidos na venda para o mercado nacional de bobinas de aço, como é o caso da ArcelorMittal.
Em troca de poucos empregos, as indústrias ostentadas pelo chamado “3° ciclo de desenvolvimento do Estado”, promovem uma onda de impactos, gerados sobre a promessa de geração de emprego e desenvolvimento.
No passado, com a chegada das grandes indústrias ao Estado, a promessa era da geração de 80 mil vagas de trabalho, mas, atualmente, apenas 20 mil estão empregados, sendo mais da metade das vagas ocupadas por trabalhadores terceirizados e de fora do Estado.
Nos municípios onde as indústrias funcionam, como é o caso de Anchieta, sul do Estado, onde está instalado o projeto poluidor da Samarco Mineração S/A, e a Vale pretende construir a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), os prejuízos sociais devido à chegada de trabalhadores são visíveis. Em pouco menos de 30 anos, os bolsões de miséria duplicaram, há aumento de violência, tráfico de drogas e falta infraestrutura na área de saúde, educação e segurança. A vocação turística da região também foi destruída. O município já ultrapassou os limites máximos de emissões de poluentes previstos por lei e o importante rio que abriga, o Benevente, está exaurido pela demanda industrial.
Em Aracruz, norte do Estado, onde a gigante ex-Aracruz Celulose (Fibria) funciona, os prejuízos são os mesmos. Além da poluição e da falta de infraestrutura na região, a informação é que na parte administrativa da empresa a grande maioria dos funcionários foi trazido do Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto na plantação de eucalipto, cada 30 hectares plantados com eucalipto, geram apenas um emprego.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 26/07/2010)