A equipe da Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, única área protegida federal totalmente inserida no Bioma Pampa, rebateu informações divulgadas em veículos de comunicação em nome do Ministério do Meio Ambiente na quinta-feira (22), a título de dados sobre o desmatamento do Pampa. A engenheira agrônoma Eridiane Lopes da Silva esclarece que o responsável pelo sumiço da vegetação original - que segundo o Ministério já foi devastada em 54% - não é o desmatamento. "E sim a conversão de áreas de vegetação nativa para instalação de obras de infra-estrutura ou plantações comerciais", detalha.
De acordo com os dados do Ministério, somente entre 2002 e 2008 foram desmatados 2.183 quilômetros quadrados de cobertura nativa no território gaúcho, o que representa uma média de 364 quilômetros quadrados de devastação por ano. Dentre as 19 cidades que mais destruíram a vegetação do Pampa, a campeã em área atingida é Alegrete, na fronteira-oeste, com 176 quilômetros desmatados em seis anos, segundo o levantamento feito pelo Centro de Monitoramento Ambiental do Ibama. Nessa lista, Sant'Ana do Livramento também teria conquistado lugar de destaque.
Eridiane explica que a vegetação original do Pampa é composta por campos, vegetação de banhado, matas ciliares e manchas florestais nativas, onde a maior parte da vegetação corresponde aos campos. O processo não se caracteriza como desmatamento, mas como uma substituição dessas áreas por edificações, estradas e barragens ou mesmo grandes plantações de soja, milho, arroz, silvicultura, pastagem de braquiária, entre outros.
A engenheira agrônoma ensina, ainda, que a pecuária, quando desenvolvida de forma extensiva, sobre campo nativo e com ajuste de carga animal, tem se mostrado uma aliada à conservação da biodiversidade Pampa. "As ameaças ao Pampa relacionadas à pecuária são relativas ao manejo adotado", diz. A implantação de pastagens com espécies não nativas do Pampa corresponde à perda de biodiversidade por conversão de áreas de vegetação nativa em vegetação exótica. O excesso de carga animal - muitos animais pisoteando e pastando em excesso na mesma área - impede a regeneração das plantas de campo. Outra ameaça é a permissão para que o Capim-annoni entre em novas áreas ou aumente na propriedade, o que seria perda de biodiversidade por invasão biológica.
Eridiane enfatiza que a diminuição da perda de vegetação original do Pampa não será obtida por ações de fiscalização e combate ao desmatamento, uma vez que a maior parte desta vegetação original perdida é vegetação campestre (herbáceas, arbustos e arvoretas nativas associadas ao ecossistema Campo). "A perda da biodiversidade original do Pampa, plantas e bichos nativos, somente será diminuída se passarmos a adotar sistemas de manejo e produção compatíveis com as características ecossistêmicas do Pampa, os quais devem respeitar a continuidade de existência das plantas e bichos nativos desta região do país", finaliza a engenheira agrônoma.
(A Platéia, 26/07/2010)