Dos 38 milhões de hectares plantados com lavouras de soja, milho e algodão transgênicos no Brasil, cerca de 4 milhões – 10,5% da área – estão infestados por plantas daninhas resistentes ao glifosato, herbicida mais eficiente para esse tipo de cultivo.
Stephen Powles, pesquisador da área que fará palestra hoje, em Passo Fundo, avaliou o problema nas lavouras brasileiras e sugeriu, em entrevista a ZH que, se os produtores não agirem rapidamente, os prejuízos serão irreparáveis nas próximas safras.
Zero Hora – Quais as áreas mais afetadas por plantas daninhas resistentes ao glifosato no Brasil?
Stephen Powles –As áreas mais afetadas estão nos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, onde foram catalogadas quatro espécies: a coniza, conhecida como buva, o azevém, o capim amargoso e o leiteiro. Mas o problema pode ser bem maior, já que não existem estatísticas para os Estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia.
ZH – O problema já pode ser considerado grave no Brasil?
Powles – O problema está se agravando, mas o Brasil pode reverter esse quadro se começar a agir o mais rápido possível. Se não agir agora, terá o mesmo fim que os Estados Unidos – um milhão de hectares inutilizados, onde o glifosato não pode mais ser usado, nem mesmo em sistema de rotatividade com outras culturas e herbicidas.
ZH – E o que o Brasil pode fazer para amenizar o problema?
Powles – A melhor forma de evitar que a situação piore é a diversidade de culturas e herbicidas. A cada safra deve haver rotação de culturas e, consequentemente, a utilização de herbicidas diferentes. No Paraná e no Rio Grande do Sul, já há relatos de que o capim pé de galinha também teria resistência ao herbicida.O glifosato ainda é a melhor opção, mas seu uso deve ser planejado.
FIQUE POR DENTRO
- A região de Passo Fundo é a mais afetada por populações de plantas daninhas resistentes ao glifosato. Essa área tem se expandido, principalmente, em direção ao sul, norte, oeste e noroeste do município. Nos últimos anos, a cidade de Palmeira das Missões vem se tornando outro foco de grande preocupação dos especialistas.
- O problema pode ser amenizado com a rotação de culturas todos os anos – sendo, assim, aplicados herbicidas diferentes a cada safra. A melhor opção, portanto, é a prevenção. Não espere ser afetado pelo problema para tomar uma atitude em suas lavouras, já que as áreas afetadas não poderão ser recuperadas.
FICHA
- Stephen Powles é diretor do WA Herbicide Resistance Initiative e da Escola de Biologia Vegetal na Universidade de Western Australia. Considerado autoridade mundial em resistência de plantas daninhas a herbicidas, é autor de livros e artigos científicos sobre o tema.
O QUE É
- O glifosato é um tipo de herbicida utilizado, principalmente, em lavouras de soja e milho transgênicos. Apontado como o produto mais eficiente já desenvolvido para o controle de pragas nesses cultivos, o glifosato começou a ser usado na década de 70 e, nos últimos quatro anos, teve seu consumo mundial aumentado em cerca de 20%.
- Stephen Powles participa hoje do Workshop Syngenta sobre Manejo da Resistência ao Glifosato: Presente e Futuro. A palestra, gratuita e aberta ao público, será ministrada às 10h20min, no Gran Palazzo (rodovia RS-324, saída para Carazinho), em Passo Fundo.
Fonte: Fonte: Rodrigo de Miranda, gerente de herbicidas não seletivos para América Latina da Syngenta – líder mundial em proteção de cultivos
(Zero Hora, 26/07/2010)