Em abril deste ano, as cidades de Belém de Maria e Cupira, em Pernambuco, registraram mais de cem tremores de terra de baixa magnitude em um único dia. No mês anterior, os moradores de Alagoinha haviam sentido 50 tremores entre 1,8 e 3,2 graus na escala Richter. Já o terremoto de maior magnitude do ano, que atingiu 4,3 graus, ocorreu em janeiro, em Taipu, no Rio Grande do Norte, e foi sentido em um raio de 350 quilômetros.
O Nordeste do Brasil tem sido mais afetados por tremores de terra ou simplesmente o fenômeno tem sido diagnosticado com mais precisão? Segundo o coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Joaquim Mendes Ferreira, a comunicação e o monitoramento de atividade sísmica nas regiões foram aprimorados, o que explica a identificação de abalos em locais onde o fenômeno antes não era registrado.
A capital potiguar está pronta para receber a 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece entre os dias 25 e 30 de julho no campus de Lagoa Nova da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
O tema central do encontro deste ano é "Ciências do mar: herança para o futuro". O assunto será abordado em palestras e mesas-redondas que tratarão do efeito das mudanças climáticas sobre os ambientes costeiros, da biodiversidade do litoral brasileiro, dos recursos naturais da nossa plataforma continental, das aplicações biotecnológicas das algas marinhas ou dos desafios da pesca e aquicultura no Brasil, entre outros.
Ferreira é um dos conferencistas da 62ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), evento que tem início neste domingo (25) e vai até sexta-feira (30) em Natal (RN). No evento, ele irá explicar que a atividade sísmica no Nordeste passa por ciclos de maior e menor intensidade, mas nunca cessa.
“Houve uma intensa atividade sísmica no período de 1986 a 1994, que decresceu nos anos posteriores”, conta o especialista ao UOL Ciência e Saúde. Os eventos de maior destaque, com magnitude acima de 5.0, ocorreram em Pacajus/Cascavel (CE), em 1980, e em João Câmara (RN), em 1986 e 1989.
“A partir de 2002, começou a haver um aumento dessa atividade e ocorreram alguns eventos de magnitude acima de 4.0 desde então”, acrescenta. Os tremores referidos por ele, além do registrado em Taipu no início deste ano, são os de São Caetano (PE), em 2006, e de Sobral (CE), em 2008. Em geral, esses tremores ocorrem na forma batizada pelos sismólogos de "enxame", ou seja, há vários sismos por dia, durante muito tempo.
Até hoje, os especialistas não conseguiram explicar por que há mais atividade sísmica no Nordeste do que em outras regiões do país. Em relação aos tremores registrados em Pernambuco, uma das hipóteses mais aceitas é a existência de uma falha geológica de aproximadamente 700 quilômetros, com 30 quilômetros de profundidade, chamada de “lineamento de Pernambuco”. No entanto, os pesquisadores não conseguiram associar a atividade sísmica de outras cidades do Nordeste com outro lineamento, o “Sobral-Pedro II”.
Ao que tudo indica, os brasileiros não precisam se preocupar com eventos de grande intensidade. “Prever que em uma dada região vai ocorrer um tremor de magnitude acima de um dado valor não é difícil - tanto no Haiti quanto no Chile havia sinais que indicavam essa possibilidade”, comenta o especialista. O problema, segundo ele, é dizer exatamente quando e onde um tremor de terra vai ocorrer. “A dificuldade é que não existem parâmetros geofísicos mensuráveis que se comportem da mesma forma em todos os tremores de terra”, explica.
(UOL, 25/07/2010)