Em época de baixa umidade, região queima 2.535 Maracanãs de cana/dia
Autorizações são dadas pela Cetesb, que prevê fim da prática em 2017; especialista diz que essa poluição causa doenças
De 1º de junho até ontem, período crítico de baixa umidade do ar, a Cetesb autorizou a queima de 110.879 hectares de cana-de-açúcar na região. O número é equivalente à queima de 2.535 estádios como o Maracanã (8.250 m2) por dia.
A área equivale ainda a 16% do total previsto para ser queimado em toda a safra, que vai até dezembro. Os canaviais abrangidos são os das regiões administrativas de Barretos, Franca, Ribeirão Preto e Central (que inclui São Carlos e Araraquara).
Segundo o agrônomo Ricardo Viegas, gerente do projeto Etanol Verde, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, as solicitações foram autorizadas de acordo com o Protocolo Agroambiental, assinado em 2007 pelas principais usinas e pelo Estado de São Paulo.
O documento prevê a extinção das queimadas da palha da cana em 2014 em áreas mecanizáveis e em 2017 para locais não-mecanizáveis. A adesão das usinas ao protocolo é voluntária.
Em Araraquara, esse prazo pode ser antecipado para a safra de 2011, caso não seja derrubada decisão da 1ª Vara Federal desta semana, que proibiu as queimadas.
Justamente por causa da baixa umidade do ar, um decreto prevê que, no período de 1º de junho a 30 de novembro, fica proibida a queima de cana no horário entre as 6h e as 20h.
No entanto, segundo Paulo Saldiva, patologista do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, a limitação de horário não é eficiente e a população está exposta à poluição da queima, que pode causar diversas doenças.
Ainda de acordo com o patologista, pesquisas realizadas no laboratório mostram que a queima da cana e de pastagens aumenta a concentração de partículas no ar, como a poeira.
"A estiagem pode agravar o problema, já que o tempo seco faz com que as partículas de poluição permaneçam por mais tempo no ar."
Mecanização
O diretor regional da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), Sérgio Prado, disse que o setor deve investir US$ 30 bilhões nos próximos quatro anos para acabar com a queima de cana.
"As usinas já se comprometeram a eliminar a queima e estão dentro de seu cronograma para atingir essa meta. É um caminho sem volta", afirmou Prado.
Os números de autorização da Cetesb se referem apenas à queima controlada, ou seja, a que é autorizada e realizada entre as 20h e as 6h.
Até ontem, as agências da Cetesb de Araraquara, Barretos, Franca e Ribeirão tinham multado 16 empresas por queima irregular. As agências de Jaboticabal e São Carlos não divulgaram os dados.
Ismael Pereira, presidente da Orplana (Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul), disse que as queimadas irregulares são acidentais e ocasionadas pelo tempo seco.
"O produtor não pode ser punido por uma coisa que não tem efetivamente culpa, se é crime ou acidente", afirmou Pereira.
(Por Hélia Araújo, Folha de São Paulo, 24/07/2010)