A pequena cidade mineira de Asbestos, no Quebec, dificilmente poderá escapar de sua história. Seu nome em inglês significa amianto. Mas aqui a exploração da fibra branca, banida em uns trinta países, não é apenas história do passado. Asbestos quer construir o seu futuro extraindo novamente o mineral de seu solo. O projeto está longe de obter unanimidade.
Há algumas semanas não se passa um dia sem que uma associação de médicos ou de cientistas se oponha à reabertura da mina Jeffrey, nome da sociedade que a explora.
Apoiando-se notadamente nos dados da Organização Mundial da Saúde, que estima que o amianto é responsável por 90.000 decessos ao ano através do mundo, a Sociedade canadense do câncer e as associações médicas do país exigem do governo de Quebec que não conceda à empresa mineradora uma garantia de empréstimo de 58 milhões de dólares (43 milhões de euros) que lhe permitiria reabrir suas portas para explorar uma jazida subterrânea.
Os defensores do projeto sustentam que o crisotilo que seria retirado do solo de Asbestos é a menos prejudicial das fibras de amianto e que é possível manipulá-lo com toda segurança.
“Nós não dizemos que não haja riscos, mas que ele é menor do que com outras fibras de amianto, como o anfibólio”, afirma Serge Boislard, presidente do Movimento Pró-Crisotilo que pressiona o governo de Quebec para dar seu sim ao projeto.
Boislard não esconde que está diretamente envolvido. Trabalhador em amianto há quarenta e dois anos e conselheiro municipal em Asbestos, ele estará entre as 450 pessoas contratadas pela companhia mineradora. “A mina Jeffrey é o ganha-pão da cidade há 130 anos”, pavoneia-se ele, dirigindo o olhar para a imensa mina a céu aberto, em cujas bordas a pequena municipalidade foi construída e por diversas vezes reconstruída para adaptar-se à expansão do campo de exploração.
Num dos raros restaurantes desta cidade de umas 6.900 almas, nota-se que o fechamento da mina em 2009, após sua falência, foi um golpe muito duro para a economia local. “È um projeto controvertido, mas todos esperamos que a mina vá reabrir. A vida é difícil aqui desde o ano passado”, diz uma servente do bistrô Le Fou du Roi [O doido do Rei]. E os riscos para a saúde? A jovem mulher de vinte anos sacode os ombros: “Meus avós viveram em Asbestos toda a sua longa vida”, defende.
Esta displicência resiste mal à realidade. No Quebec, o amianto é responsável por 55% dos decessos ligados a doenças profissionais. Segundo dados compilados pelo Instituto Nacional de Saúde Pública do Quebec (INSPQ), de 1988 a 2003, 198 trabalhadores receberam um diagnóstico de amiantose e 262 outros tiveram um câncer ligado ao amianto. “O que podemos observar é que ainda há exposições às poeiras de amianto nas minas de Quebec superiores às normas admitidas. Constatamos também que sempre há enfermos afetados pelo amianto”, estima o doutor Louise De Guire, do INSPQ.
Os médicos não se inquietam somente pelas consequências desta indústria no Canadá, um dos únicos países ocidentais que ainda extraem o amianto. Eles também alertam para os danos que isso pode causar nos países em desenvolvimento para onde a fibra será exportada em sua quase totalidade. Como outra mina de amianto já em operação em Thetford Mines (Quebec), a mina Jeffrey deveria escoar sua produção para a Índia, a Tailândia e o Vietnã.
“Utilização assegurada”
Num artigo publicado no início de julho, o Collegium Ramazzini, um grupo de universitários independentes em matéria de saúde profissional e ambiental, condenou esta prática. “Não é possível trabalhar com toda segurança com amianto, em particular nos países em vias de desenvolvimento nos quais os controles são frágeis”, afirma Philip Landrigan, que dirige o colégio.
Este último exige do primeiro ministro do Quebec, Jean Charest , de rejeitar a solicitação de garantia de empréstimo da mina Jeffrey. Cortejado simultaneamente pelos detratores e pelos defensores do amianto, o governo de Quebec estuda atualmente se irá contribuir financeiramente à reabertura de uma indústria que está perdendo vitalidade. Com base num relatório de especialistas independentes, ele examina a rentabilidade potencial do projeto e solicita desde já à companhia mineradora demonstrar que seus clientes respeitarão todas as regras de segurança na utilização do amianto.
“Há opiniões diferentes, mas o governo de Quebec defende uma utilização assegurada do crisotilo e nós temos, em Asbestos, uma empresa que pode empregar 450 pessoas numa cidade que necessita muito disso”, explicou a presidente do conselho do Tesouro, Monique Gagnon-Tremblay. Resta ver o que, entre a economia e a saúde pública, pesará mais na balança.
(Por Laura-Julie Perreault, Le Monde / IHUnisinos, com tradução de Benno Dischinger, 21/07/2010)