Governo, produtores e indústrias se preparam para avançar no cultivo de cana, em busca da autossuficiência no álcool
Longe de ter a demanda por etanol abastecida pela produção local, o Rio Grande do Sul começa a se estruturar para atender um mercado cada mais sustentável. A meta gaúcha é atingir a autossuficiência em álcool combustível daqui a 10 anos. Ao produzir o eteno verde (matéria-prima do plástico verde) na fábrica de Triunfo, já a partir de agosto, a Braskem comprará 450 milhões de litros de etanol por ano. E os produtores estão bem atentos a esse novo impulso.
Alaor Saldanha de Oliveira, 50 anos, quer experimentar ainda neste ano a cana-de-açúcar em sua propriedade, no interior de Rio Pardo. O fumo, que cultiva desde 1986, deve ir aos poucos dando lugar à matéria-prima do etanol. Nesta safra, já reduziu a área para guardar espaço para a nova cultura. Plantava 400 mil pés de fumo. Agora, serão apenas 150 mil pés. O anúncio da instalação de uma usina de biocombustível no município o estimulou a procurar outras culturas.
– Estou querendo diversificar com a cana, com o etanol, que é uma alternativa boa para a pequena propriedade – comenta o produtor, que inicialmente quer introduzir mudas de cana em cerca de 10 hectares.
O agricultor foi um dos produtores que se cadastraram na Secretaria da Agricultura do município assim que soube da instalação da Via Vida Biocombustíveis perto de sua propriedade. Dentro de praticamente dois anos e seis meses, a usina deverá começar a produzir 180 mil litros de etanol por dia. Inicialmente, devem ser plantados 1,5 mil hectares de cana.
Para tornar o Rio Grande do Sul autossuficiente até 2020, o governo estadual anunciou a criação de um comitê público-privado, que incentivará o plantio da cana.
– O problema é o custo que o Estado tem comprando de fora. O custo básico é ICMS. Cerca de 12% sobre um montante do valor é imposto que se paga para outros Estados. O que é mais difícil sempre é ter quem compre. No nosso caso, já temos o consumidor, de grande potencial, mas nós não temos a produção – diz o secretário do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, Josué de Souza Barbosa, que irá presidir o comitê.
É justamente para pensar em como atingir a produção para a demanda que o grupo será criado. De acordo com Barbosa, farão parte dele secretarias estaduais, como da agricultura, do planejamento, da ciência e da tecnologia, pesquisadores e empresários. Um planejamento estratégico será elaborado.
SILVANA DE CASTRO
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O IMPULSO
- A partir de agosto, a unidade de Triunfo da Braskem começa a produzir eteno verde. Com isso, a demanda por etanol no Estado aumentará cerca de 75%.
- Para suprir a necessidade da empresa de 450 milhões de litros de etanol por ano, conforme o gerente de Relações Institucionais da Braskem, João Ruy Dornelles Freire, seria preciso a produção de quatro Norobios (Noroesthe Bioenergética, usina de São Luiz Gonzaga que deverá entrar em operação na safra 2012/2013) e cerca de 70 mil hectares cultivados com cana.
- A Norobios produzirá 120 milhões de litros de etanol por ano.
A SITUAÇÃO HOJE
- Dos 35 mil hectares de cana cultivados no Estado, apenas 2,5 mil hectares são destinados à produção de etanol, conforme o engenheiro agrônomo da Emater, Alencar Paulo Rugeri.
- O restante vira melado, rapadura, cachaça e açúcar.
- De acordo com Rugeri, para que toda a demanda por etanol fosse atendida, a área de cana no Estado teria que ser de 200 mil hectares.
- Praticamente todo o álcool combustível consumido hoje – 600 milhões de litros por ano – vêm de outros Estados.
- O Rio Grande do Sul produz apenas 2% do etanol que utiliza.
(Zero Hora, 23/07/2010)