“É importante destruir o mito segundo o qual os transgênicos são a vanguarda da pesquisa. A metodologia do transgênico é uma metodologia velha e rude, que deu resultados insatisfatórios e trouxe lucro só para os bolsos das multinacionais. Há uma outra pesquisa, que é a do serviço dos agricultores e dos consumidores que acreditam que este planeta é uma coisa mais importante e complexa do que um título da bolsa.”
A opinião é de Carlo Petrini, chef italiano e presidente e fundador do movimento Slow Food, em artigo para o jornal La Repubblica, 03-06-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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Há anos participo de encontros públicos sobre os OGMs [organismos geneticamente modificados, ou transgênicos], com relação aos quais, cedo ou tarde (geralmente cedo), os defensores dos transgênicos dizem que eu tenho uma atitude anticientífica. Aqueles que recomendam prudência e outros caminhos – considerando que o do transgênico não só é desnecessário, mas também contraproducente em um sistema agroalimentar sadio que deve se basear na biodiversidade e na multifuncionalidade da agricultura – fazem parte, aos olhos desses “cientistas verdadeiros”, de um saco de obsolescência e ignorância.
Depois, porém, me confronto com tantas personagens do mundo da pesquisa, as da universidade e dos laboratórios públicos, e vejo que estão frequentemente em sintonia com as minhas posições. Geneticistas, reitores de faculdades agrárias, economistas, ecologistas: é possível que todos sejam anticientíficos?
Por isso, é importante destruir o mito segundo o qual os transgênicos são a vanguarda da pesquisa. A metodologia do transgênico é uma metodologia velha e rude, que deu – por meio de investimentos faraônicos – resultados insatisfatórios e trouxe lucro só para os bolsos das multinacionais. Há uma outra pesquisa, que o encontro que se realiza nesta terça-feira em Roma relata, que é a do serviço dos agricultores e dos consumidores que acreditam que este planeta é uma coisa mais importante e complexa do que um título da bolsa.
Com os campos ilegais em Friuli, que nestes dias culposamente não são combatidos por quem tem a autoridade e o dever sobre eles, iniciou-se a poluição da agroalimentação italiana. Friuli, até ontem, significava bom vinho. A partir de hoje, significa poluição por organismos geneticamente modificados. A força-tarefa “Por uma Itália livre de transgênicos”, aliança de associações e organizações sociais, conecta a pesquisa e os cidadãos, ligação até hoje ainda não cuidada por quem deveria.
Evidentemente, é preciso que a sociedade civil faça um trabalho duplo e triplo, substituindo também, onde é preciso, as instituições. Talvez, seja preciso fazer isso também em Friuli, mas é uma questão de dias. Depois, a contaminação será algo feito, e o nosso “made in Italy” será só uma etiqueta vazia.
(Ecodebate, 22/07/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.