Temos assistido o aumento da preocupação com a ética e os riscos envolvendo a engenharia genética. Os motivos são evidentes. Os genes tem sido transferidos entre espécies que não se relacionam, como animais com vegetais. A engenharia genética não tem respeitado as fronteiras da natureza. Fronteiras que existem para proteger as singularidades de cada espécie e assegurar a integridade genética das futuras gerações.
Isto até não seria um obstáculo, desde que os controles éticos e sociais fossem sérios e conseguissem ser hegemônicos sobre os interesses econômicos. Nem uma coisa nem outra ocorrem. E daí ficamos sem saber se foram ultrapassados limites de resiliência das espécies (limites dentro dos quais ocorre absorção ou regeneração naturais, onde não são ultrapassados os limites de segurança que as singularidades das espécies impõem).
Dentro deste cenário complexo, os defensores do uso das biotecnologias exibem muitos argumentos. As plantas podem ter maiores produtividades, com maiores resistências a insetos, produtos químicos e pragas. A Monsanto assegura que apenas no ano de 1998, os agricultores americanos utilizaram 1,1 milhão de litros de inseticidas a menos na cultura do algodão.
Os argumentos favoráveis ressaltam que a partir da transferência de genes poderão ser produzidos alimentos com maior qualidade nutricional, com menor quantidade de gorduras, ou ainda enriquecidos com vitaminas, como o “arroz de ouro” com alto teor de beta-caroteno e ferro, desenvolvido pela Fundação Rockfeller para as populações carentes da África e Ásia.
As desvantagens podem incluir empobrecimento da biodiversidade, eliminação de insetos que possam ser benéficos ao equilíbrio ecológico, o surgimento de plantas e animais com resistência a um amplo espectro de antibióticos e agrotóxicos.
Organizações ambientalistas também citam deficiências nos testes de segurança alimentar e ambiental, que não conseguem reproduzir todos os fatores relevantes intervenientes. Poderiam haver prejuízos no tratamento de doenças humanas, pois muitos OGMs tem genes resistentes a antibióticos.
Os OGMs poderiam ainda aumentar a incidência de alergias, pois muitas pessoas são alérgicas a certas proteínas que estes organismos podem produzir.
Apesar destes riscos, os alimentos transgênicos já são amplamente comercializados. Como os cultivos de transgênicos não são segregados dos cultivos tradicionais, e como a regulação de rotulagem é deficiente, inadequada e inexistente ainda em muitos países, os consumidores estão sendo impedidos de exercer corretamente o seu direito de opção.
Para um total de mais de 350 mil plantas, pouco mais de 7 mil são conhecidas, e apenas 120 são importantes para a alimentação humana. Destas, apenas 4 espécies – o arroz, o trigo, o milho e a batata – respondem por cerca de 80% da produção e consumo mundial de alimentos.
Nesta listagem, nem está incluída a soja, pois ela se torna mercadoria ou “commoditie” por conta do uso como ração animal, na produção de óleos vegetais, biocombustíveis ou vários outros usos.
Roberto Naime, Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS, é colunista do EcoDebate.
(EcoDebate, 21/07/2010)