O jornalista mexicano Isaack de Loza luta todos os dias para que o jornal em que trabalha inclua assuntos ambientais em sua edição. “Tenho de convencer o editor de que a questão é importante”, contou Loza, o jornal El Informador, da cidade de Guadalajara, no seminário de jornalismo ambiental “Desenvolvimento Sustentável e Biodiversidade: Diversidade Biológica, Mitigação e Adaptação à Mudança Climática”, que terminou no dia 16, na Cidade do México.
No seminário, organizado pelo serviço de notícias ambientais Terramérica e pelo estatal Colégio do México, especialistas e jornalistas de vários Estados mexicanos debateram sobre estes temas e as formas de abordá-los na mídia. Apesar dos cada vez maiores perigos que ameaçam a biodiversidade na região, em razão das atividades humanas e pelos efeitos da mudança climática, o tema ainda é escasso nas páginas dos jornais e nos demais meios de comunicação, espaços que tem um papel importantíssimo na promoção da proteção do meio ambiente.
“Cada vez vejo menos espaço para as notícias ambientais nos jornais e nas rádios”, destacou o jornalista mexicano especializado Eduardo Viadas, porta-voz da Comissão para a Cooperação Ambiental da América do Norte, com base na cidade canadense de Montreal. A América Latina e o Caribe abrigam cerca de 40% das espécies animais e vegetais do mundo, igual porcentagem de florestas tropicais e 36% das florestas industriais e cultivadas, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Entre 1990 e 2005, a região perdeu aproximadamente 69 milhões de hectares de superfície florestal – quase 7%, dobro da média mundial – com o consequente prejuízo sobre a biodiversidade presente nesses ecossistemas. “Vejo um retrocesso no jornalismo ambiental no México. Temos de reforçar a presença de temas ambientais na imprensa e na televisão”, afirmou, por sua vez, o jornalista Miguel Bárcena, vice-presidente da Academia Nacional de Jornalistas de Rádio e Televisão do México. Este país é um dos mais biodiversos do mundo e dos mais expostos aos efeitos da mudança climática, como secas intensas e chuvas devastadoras.
Já se extinguiram pelo menos 56 espécies animais e cerca de 1.900 variedades naturais estão em risco, segundo a governamental Comissão Nacional para o Uso e o Conhecimento da Biodiversidade (Conabio). “Estávamos muito desesperançados porque havia pouquíssimas pessoas sabendo muito e muita gente nada sabendo”, disse Eduardo Limón, presidente da não governamental Comunicação e Educação Ambiental, dedicada à difusão de temas ecológicos mediante campanhas educativas. “Nosso interesse é envolver as pessoas, passar informação e conscientizar”, acrescentou.
O México conta com uma porcentagem de capital natural de 13,7%, referente aos bens e serviços ambientais de uma nação, em comparação com uma taxa mundial de 4%, segundo dados do Banco Mundial, que patrocina o Terramérica junto com a agência de notícias IPS (Inter Press Service) e os programas das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e para o Meio Ambiente (Pnuma). A Organização das Nações Unidas declarou 2010 Ano Internacional da Biodiversidade.
Em outubro, os governos do mundo se encontrarão na cidade japonesa de Nagoya na X Cúpula da Diversidade Biológica, com o objetivo de negociar uma nova estratégia para cumprir o Convênio sobre a Diversidade Biológica de 1993. “Um princípio fundamental é tornar acessível a informação ambiental a essas pessoas, de modo compreensível. Temos um monte de informação que não está sendo usada no México e no mundo”, disse o cientista mexicano José Sarukhán, coordenador nacional da Conabio, ao falar no painel sobre a biodiversidade neste país.
Na América Latina e no Caribe, o Pnud executa um projeto sobre o papel da biodiversidade no crescimento econômico e na igualdade da região, cujo primeiro informe estará pronto em algumas semanas. “A biodiversidade deve ser a marca que distingue a região, que pode ser uma superpotência no tema”, destacou durante o encontro Emma Torres, assessora estratégica em Meio Ambiente do Pnud.
O informe mostrará o valor econômico da biodiversidade e o estado e potencial dos mercados de bens e serviços ambientais. Entre eles destacam-se os bônus de carbono contidos no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto, vigente desde 2005 e que caducará em 2012. Esse tratado internacional estipula a redução das emissões de gases contaminantes responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta, como o dióxido de carbono e o metano.
Cancún, balneário turístico a sudeste da capital mexicana, será a sede da 16ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-16), de 29 de novembro a 10 de dezembro, da qual sairá um novo tratado internacional sobre o clima.
(Por Emilio Godoy, IPS, Envolverde, 19/7/2010)