O fato de que o planeta não aguenta mais o atual ritmo de consumo e as exigências cada vez mais altas e urgentes do modo de vida da humanidade é uma preocupação crescente. Pensando nisso, a solução que os estudiosos têm defendido é o uso inteligente e comedido dos recursos naturais - a chamada prática da sustentabilidade. São iniciativas que preveem atitudes como reutilização de resíduos de obras, substituição da madeira e uso de adesivos sem solventes.
Quarto de criança idealizado para mostra em Brasília: a cola do adesivo na parede é à base de água, sem solvente Foto: Kleber Lima/CB/D.A Press
Antes escondido nas paredes, o PVC - material de plástico durável e atóxico - ocupa cada vez mais os espaços nobres dos ambientes em diversas formas. Além de barato, o material pode ser misturado à borracha e ganhar a cara da madeira, por exemplo. "Por sua característica de durabilidade, o PVC é reaproveitado de outras obras. Fica muito bonito para revestir vigas de concreto", pontua a arquiteta Ângela Borsoi, que participa da mostra Morar mais por menos, de 22 de julho a 29 de agosto, em Brasília.
Embora o lixo produzido pelo consumo diário seja um problema nos aterros, os resíduos das obras são considerados tão prejudiciais quanto os do consumo. Toneladas de azulejos, pisos e revestimentos se transformam em entulhos com destino aos lixões. Mas é possível reverter esse cenário. "Hoje, não é preciso mais quebrar o piso para trocá-lo. Há no mercado um tipo de piso chamado de Retrofit, de 4mm, que é aplicado em cima do piso anterior", diz Egito Souza, arquiteto e empresário da construção civil. O mesmo vale para a aplicação nos azulejos. "O uso desse material não gera entulho", garante o arquiteto.
Mas, para que isso saia do papel e torne-se uma realidade, é preciso que a consciência seja despertada para a necessidade de tornar os empreendimentos sustentáveis uma prática corriqueira. "Pensar que as coisas mudarão da noite para o dia é uma ilusão infantil. É importante que a criação de uma consciência sustentável que seja estimulada por uma pressão popular poderosa, que só será possível por meio da divulgação do conhecimento das reais necessidades ambientais e do perigo que corremos ao desprezá-las", define a arquiteta Karla Madrilis, especialista em bioconstrução.Exigências - Combater o desperdício de materiais e garantir a economia de recursos importantes como água e energia são as premissas para um empreendimento sustentável. De acordo com Marilis, o apartamento, a casa ou até mesmo apenas um ambiente, mais do que simplesmente favoráveis à natureza, têm que estar enquadrados em alguns parâmetros básicos. São eles: ser ecologicamente correto; ser economicamente viável; ser socialmente justo e ser culturalmente aceito. Para isso, devem seguir algumas normas e parâmetros específicos em sua elaboração e construção. "Aspectos arquitetônicos e do uso de materiais envolvidos no tratamento de seus resíduos devem ser levados em consideração, para garantir que haverá uma harmoniosa e correta integração com o meio ambiente e com a sociedade em que estiver inserido", destaca a especialista em bioconstrução.
Atualmente, o uso de materiais sustentáveis é a prática mais adotada por projetistas e a mais pedida por seus clientes. "As pessoas já estão com uma consciência sustentável e querem participar da preservação do meio ambiente. Pequenas ações, como a utilização de um tapete de fibra de garrafa pet ou o uso de uma adesivo à base de água e sem solvente, já causam impacto positivo, tanto na natureza quanto na sociedade, pois sua fabricação (tapete de garrafa pet) é feita por uma cooperativa que trabalha com materiais reciclados", explica Marilis.
Assim, os investimentos necessários devem ser feitos desde o início da concepção do projeto. "A opção pelo uso de modernas tecnologias inovadoras ou por soluções práticas e de baixo custo já deve estar na mente dos projetistas para evitar improvisações e problemas com a execução do empreendimento", diz Egito.
Reflorestamento - Porém, se a ideia for utilizar a madeira, os especialistas recomendam o uso daquela vinda de áreas de reflorestamento. Isso porque árvores de reflorestamento são consideradas "poços decarbono", que produzem material de qualidade suficiente para substituir nas construções a madeira oriunda das florestas tropicais nativas. "Como se observa, além de sequestradoras de carbono em grande escala, as madeiras de reflorestamento, como alternativa, contribuem com a conservação das matas tropicais nativas pela simples redução da demanda. Isso é sustentabilidade", destaca Flavio Carlos Geraldo, membro da diretoria da Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM).
A utilização de madeira de eucalipto e de pinus na construção civil e em segmentos como o ferroviário, o rural e o elétrico exige técnicas para preservar e proteger, garantindo uma durabilidade maior. "Há como combater agentes deterioradores que podem ser de natureza química, física ou biológica", afirma Geraldo.
(Correio Braziliense, Diário de Pernambuco, 20/07/2010)