A expressão "fumar como um turco", usada em vários países europeus para falar de alguém que consome cigarros em grandes quantidades, tem cada vez menos relação com a realidade graças a um lei antitabaco que completou um ano nesta segunda-feira.
A lei, que proíbe o fumo em bares e restaurantes, parece dar razão aos defensores da restrição: o consumo de cigarros caiu 20% na Turquia, o que já repercutiu em uma queda no número de casos de doenças relacionadas ao tabagismo.
Mas nem todos estão contentes. Várias associações de proprietários de bares e restaurantes dizem que a norma afeta negativamente sua clientela.
Em um bar no bairro boêmio de Beyoglu, em Istambul, os clientes tentam dissimular o fumo. De repente, um garçom munido de um cinzeiro vai de mesa em mesa e pede que apaguem seus cigarros. Outro garçom abre as janelas para ventilar o ambiente. Ambos demonstram nervosismo.
Alguns minutos depois, entra no bar um jovem de boné e mochila e que parece cheirar o ambiente. Ninguém diz, mas todos sabem: é um inspetor do Ministério da Saúde que, desta vez, não pegou ninguém no flagra.
Este caso serve para mostrar que há resistências à proibição do tabaco. No entanto, as autoridades turcas apontam que o habitual é o cumprimento da normativa e consideram que a lei está sendo respeitada em 87% dos bares e restaurantes.
"Nos primeiros cinco meses de 2010, inspecionamos 56.661 estabelecimentos e só foram encontrados indícios de descumprimento em 2.160", explica o diretor provincial de Saúde de Istambul, Ali Ihsan Dokucu.
Segundo uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), 92% dos turcos aprovam a lei.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, recebeu um prêmio da organização nesta segunda-feira pela implantação da legislação antitabaco.
"É uma lei que beneficia muito quem trabalha dentro dos bares" ressalta Zulkuf, funcionário de uma popular discoteca do centro de Istambul, apesar de ele próprio ser fumante.
Neste estabelecimento, os donos montaram um pequeno terraço onde os fumantes se amontoam, enquanto o resto dos clientes se movimenta na pista de dança sem a angústia da mistura de suor humano e fumaça.
"A Turquia fez um trabalho maravilhoso. A lei foi aplicada muito melhor do que esperávamos", opina Elif Dagli, presidente do Comitê Nacional sobre Tabaco e Saúde, em declarações à Agência Efe.
Segundo os dados de Dagli, o consumo de cigarros durante os cinco primeiros meses de 2010 foi 20% menor em comparação com o mesmo período de 2009. As consultas de urgência nos hospitais turcos caíram na mesma percentagem, o que resultou em uma grande economia para os cofres públicos.
Entretanto, ainda há 18 milhões de fumantes na Turquia e as doenças derivadas do tabagismo são uma das principais causas de mortes entre os homens do país.
Além disso, descontentes como uma associação de proprietários de cafés levaram a lei para os tribunais turcos. A Corte Constitucional, que habitualmente se opõe ao Executivo, aceitou analisar o pedido sob a alegação de que, "na Turquia, o ato de beber café foi tradicionalmente acompanhado do de fumar".
"Segundo as estatísticas do Ministério das Finanças, o número de restaurantes e bares abertos e fechados este ano é similar ao de anos anteriores. Portanto, não se pode dizer que a lei esteja afetando-os", contra-ataca Dagli.
De acordo com a pesquisa da OMS, o medo dos donos desses estabelecimentos não tem justificativa: 79% dos turcos afirmaram que frequentam tanto ou mais que antes a bares e restaurantes.
"As pessoas descobriram o que significa comer em um restaurante com uma atmosfera 100% livre da fumaça do tabaco, algo que antes era um luxo na Turquia", conclui Dagli.
(Por Andrés Mourenza, Efe, 20/07/2010)