Vinte famílias da Chapada do A votaram contra a proposta de venda de suas propriedades para a Vale. A mineradora quer construir a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), mas os moradores rejeitam o projeto, que deverá acrescentar à região cerca de cerca de 9,7 milhões de toneladas de CO² por ano no ar. Ao todo, dos 29 representantes que compareceram à votação, 20 votaram contra a construção da CSU.
A quantidade equivale a mais da metade das emissões de dióxido de carbono lançadas pela Vale em todo o mundo, segundo os dados do seu inventário. Ao todo, a Vale lança 16,86 milhões de toneladas de CO2 por ano no mundo.
Em Anchieta, a Vale quer produzir 5 milhões de toneladas de ferro por ano e para isso tenta retirar da região as famílias descendentes de indígenas que vivem na Chapada do A e na comunidade de Monteiro. As investidas vão desde visitas surpresas de técnicos contratados pela empresa para convencer os moradores até a afirmações de que os moradores terão que sair ou serão expulsos pelo empreendimento.
Segundo o presidente da Associação de Moradores da Chapada do A, Josias Pereira, a pressão está aumentando a cada dia e deixando algumas pessoas sentindo-se coagidas e sem esperança de lutar por sua história e cultura. Entretanto, o plebiscito reforçou a união entre as famílias para que retomem a disputa de terras.
Para a votação, realizada neste final de semana na Chapada do A, foram coletados documentos sobre as propriedades, feitas denúncias de coação da Vale e também apresentadas as propostas da mineradora para convencer as famílias a venderem suas terras. Às famílias, a Vale propôs três alternativas: a indenização em dinheiro, a compra de um novo imóvel ou a construção de um novo bairro.
Diante da negativa da comunidade, a intenção da associação da Chapada do A é avaliar os índices de aceitação do empreendimento também nas comunidades vizinhas que serão afetadas pela CSU.
“Muita gente não quer a CSU aqui. A Chapada do A já mostrou isso e muitos dos vizinhos da região também não querem isso. Queremos que todos opinem. Isso nada mais é do que a busca pelo respeito aos nossos direitos”, ressaltou Josias.
Em junho deste ano, a Vale chegou a anunciar nos jornais “A Tribuna” e “A Gazeta” que já havia comprado todas as propriedades dos bairros em questão e que estaria apenas esperando a emissão da licença ambiental para começar a construir seu empreendimento. Entretanto, diante da reação da comunidade, que negou as afirmações da mineradora, ela voltou a se manifestar declarando um erro de informação e afirmando apenas que as negociações com moradores estavam em andamento.
Ao todo, a Vale já possui mais de 78km² do município, mas a intenção é comprar também os bairros de Chapada do A e Monteiro, onde ela pretende instalar a sede de sua siderúrgica. No entorno dos bairros, dizem os moradores, as famílias tentam resistir, mas muitas áreas já foram compradas.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 19/07/2010)