O governo dos Estados Unidos permitiu nesta segunda-feira (19) que a BP mantenha o poço no golfo do México fechado, apesar de ter detectado a três quilômetros dele uma infiltração, o que poderia indicar que sua estrutura interna está danificada.
'Autorizo a BP a continuar a prova de integridade durante outras 24 horas', afirmou em comunicado o almirante da Guarda Costeira Thad Allen, que dirige a resposta do governo ao derrame e que tem a última palavra nas decisões a respeito.
Allen e a BP protagonizaram neste domingo uma tensa troca que culminou com uma carta na última hora do dia na qual o almirante exige que a multinacional petrolífera aumente ao máximo as precauções e a vigilância após ter detectado um vazamento próximo ao poço.
Em comunicado, Allen afirmou hoje que o governo obteve as respostas que precisava durante uma conferência telefônica na noite passada.
'Durante a conversa, a equipe de cientistas federais obteve as respostas que estava buscando e os compromissos da BP de cumprir com suas obrigações de supervisão e notificação (ao governo)', disse Allen.
O almirante indicou que durante as próximas horas continuará com uma supervisão detalhada do vazamento detectado ontem.
Mais de 90 dias depois da explosão e posterior afundamento da plataforma operada pela BP sobre o poço Macondo, a principal preocupação da Casa Branca é que a estrutura subterrânea do poço esteja danificada e que o óleo se infiltre através das rochas e acabe vazando em múltiplos pontos do solo marinho.
Desde o dia 20 de abril e até a quinta-feira passada o poço jogou nas águas do golfo entre 35 mil e 60 mil barris diários de petróleo, no que se tornou a maior catástrofe ecológica da história dos EUA.
Após múltiplas tentativas, a BP conseguiu fechar o poço na quinta-feira com uma tampa gigante, que pode servir também para recolher o petróleo e transportá-lo para navios-tanque na superfície.
REABRIR O POÇO?
A opção de reabrir o poço, à qual a empresa recorreria imediatamente caso fossem detectados problemas, exigiria deixar que o óleo flua nas águas durante três dias para liberar a pressão do manancial.
Carol Browner, principal assessora em temas energéticos da Casa Branca, reconheceu hoje que essa opção não é a mais desejável, mas afirmou que a possibilidade de que se produzam múltiplos vazamentos seria muito pior.
'Claramente queremos que isto acabe, mas não queremos entrar em uma situação na qual teremos vazamentos incontroláveis por todo o golfo', disse Browner à rede de televisão 'ABC'.
A BP sustenta que por enquanto não está claro se o vazamento detectado ontem procede do poço Macondo. Segundo a companhia petrolífera, esse tipo de vazamento é comum no golfo.
Espera-se que a construção do poço auxiliar, a partir do qual será injetado cimento e lama pesada poço principal para fechá-lo de forma definitiva, acabe no final de julho. No entanto, o processo pode se prolongar até meados de agosto.
No mais, o derrame deve ser o foco da conversa que o presidente dos EUA, Barack Obama, terá com o primeiro-ministro britânico, David Cameron.
TERRORISTA LÍBIO
A polêmica pela suposta negligência da BP antes e depois do derrame, soma-se agora a controvérsia sobre o papel da companhia petrolífera na libertação do terrorista líbio Abdelbaset Ali Mogamed Al Megrahi.
O terrorista atentou em 1988 contra um avião da Pan Am que sobrevoava a localidade escocesa de Lockerbie quando se dirigia para os EUA, deixando 270 mortos.
O governo escocês o libertou ano passado, alegando motivos humanitários já que ele sofre de câncer terminal, uma decisão que indignou os EUA
O Senado americano convocou uma audiência para o fim de julho a fim de esclarecer se a BP pressionou o governo britânico para a libertação de Megrahi a fim de obter contratos petrolíferos na Líbia.
A companhia petrolífera admitiu ter pressionado a favor da mudança de outros prisioneiros líbios, mas não da de Megrahi.
(Folha Online, 19/07/2010)