Apesar de um esfriamento em 2009, as energias renováveis continuam a ganhar terreno no mundo. A apresentação, na quinta-feira (15), pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), das “Tendências Mundiais de Investimento nas Energias Sustentáveis” mostra que os investimentos tendem a subir a médio prazo.
No mesmo dia, o estudo feito pela rede mundial REN21, que busca promover essas energias, confirma que “apesar dos ventos contrários causados pela recessão econômica, pela baixa do preço do petróleo e pela ausência de um acordo internacional sobre o clima, as energias renováveis conseguiram se segurar bem”.
O montante dos investimentos em energias renováveis no mundo em 2009 – US$ 162 bilhões (R$ 287 bilhões) – recuou 7% em relação ao ano anterior, mas ele é quatro vezes maior do que o mostrado em 2004, segundo o Pnuma. As dificuldades de financiamento encontradas pelos investidores são a principal explicação do mau desempenho de 2009. Reportagem de Bertrand d’Armagnac, no Le Monde.
“As energias limpas não são uma bolha criada pelos últimos episódios de um boom do crédito, mas representam um setor de investimento que continuará sendo importante nos próximos anos”, afirmam os especialistas do Pnuma.
A observação dos primeiros meses do ano vem confirmar essas declarações, uma vez que no primeiro semestre US$ 65 bilhões foram gastos em energias verdes, um crescimento de 22% em relação ao mesmo período de 2009. Esse belo início de ano acontece apesar da crise que agita determinados países europeus dinâmicos no setor das energias verdes e da volatilidade dos mercados financeiros.
Em 2009, pelo segundo ano consecutivo, os gastos para instalar novas capacidades de produção renováveis (incluindo a hidrelétrica) foram superiores aos dedicados às energias fósseis. Quase 50 GW de capacidade de geração de energia verde foram criados no mundo, sem contar as grandes instalações hidrelétricas, contra 40GW em 2008, segundo estimativas da agência da ONU. Com a contribuição da hidroeletricidade (mais 28GW), as energias renováveis se aproximam do nível de novas capacidades à base de energias fósseis (83GW). Além disso, em 2009, as energias renováveis forneceram 18% da eletricidade consumida no mundo, segundo a REN21.
O ano de 2009 também foi marcado pela entrada em vigor dos planos de retomada adotados para fazer frente à crise econômica. Uma parte – US$ 188 bilhões, segundo o Pnuma – foi dedicada às energias verdes e à economia de energia. Mas esse empurrãozinho ainda não surtiu todos seus efeitos, uma vez que somente 9% do orçamento previsto para as energias verdes foram gastos em 2009. O resto deve a princípio ser desbloqueado em 2010 e em 2011, contanto que os planos de rigor que se espalham pelos países desenvolvidos não comprometam esses programas.
A parte dos investimentos dedicados em 2009 à pesquisa e ao desenvolvimento em energias limpas pelas empresas e pelos governos chegou a US$ 24,6 bilhões, contra US$ 24,2 bilhões em 2008, um recuo de 16% em relação a 2008 para os primeiros (com US$ 14,9 bilhões) e um crescimento de 49% para os segundos (com US$ 9,7 bilhões). Os governos mostraram voluntarismo político para apoiar a emergência desse novo ramo de energia ao mesmo tempo em que criam empregos verdes.
A evolução dos gastos varia de acordo com a região. Dos US$ 119 bilhões gastos fora de orçamento de pesquisa e desenvolvimento, a China assumiu a liderança na classificação mundial com US$ 33,7 bilhões, um aumento de 53%. Os Estados Unidos (US$ 17 bilhões), o Reino Unido (US$ 11,7 bilhões) e a Espanha (US$ 10,7 bilhões) vêm na sequência.
A energia eólica atraiu a maior parte desses investimentos em 2009, representando na Europa e nos Estados Unidos 39% da potência recém-instalada, ao passo que a China dobrou sua capacidade eólica com a adição de 18,8 GW em 2009. No período 2005-2009, o relatório de REN21 mostra que a potência instalada em energia eólica progrediu em média 27% por ano.
Apesar de os investimentos nas tecnologias verdes tenderem a subir a médio prazo, o futuro poderá ser caótico. A conclusão decepcionante da cúpula de Copenhague, a dificuldade da administração Obama em ter aprovada sua lei sobre o clima ou a vontade dos governos europeus de reduzir os subsídios para as energias renováveis mostram que o crescimento dos investimentos pode sofrer contratempos conjunturais.
(Le Monde, UOL Notícias, tradução de Lana Lim, EcoDebate, 19/07/2010)