O comissário para Energia da União Europeia, Günther Oettinger, recomendou ontem que a Europa adote, a exemplo dos Estados Unidos, moratória de exploração de petróleo em alto mar até que a causa do acidente com a plataforma Deepwater Horizon seja inteiramente esclarecida. Na contramão dos esforços mundiais, o Brasil anuncia hoje o início oficial da produção de petróleo da camada do pré-sal.
O poço de estréia será o do Campo de Baleia Franca, na Bacia de Campos, litoral do Espírito Santo e promete produzir 13 mil barris de petróleo leve por dia. Mais um poço do pré-sal será perfurado no Baleia Franca ainda no segundo semestre deste ano e, até o final do ano, os dois poços deverão produzir diariamente 40 mil barris de óleo por dia.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o presidente Obama estendeu até novembro a suspensão de abertura de novos poços em alto mar, uma resposta ao fracasso contínuo das medidas de contenção adotadas até agora pela empresa BP.
Incertezas rondam os últimos testes programados para esta semana no Golfo do México. O uso de um novo tipo de ‘rolha’, equipamento que prometia ser capaz de conter boa parte do óleo que vaza do buraco no fundo do Golfo do México, foi adiado pela segunda vez, por falta de segurança. Cientistas temem que a medida não só seja infrutífera, como possa danificar ainda mais o buraco.
“Quanto mais extrema a operação, maior a probabilidade de acidentes e dificuldades técnicas”, diz Ricardo Baitelo, da Campanha de Energia do Greenpeace. É o caso do pré-sal, considerado um dos dez pontos de exploração em alto mar mais perigosos do mundo pela Aliança Global para Combustíveis Renováveis. “O acidente no Golfo do México mostrou que os métodos e tecnologias disponíveis hoje não são suficientes para conter acidentes”, complementa Baitelo.
Além do risco de desastres ambientais, os poços do pré-sal poderão emitir enorme quantidade de gás carbônico, tanto pela queima do óleo, quanto pelo CO2 contido nos poços. O cálculo é que a emissão anual proveniente da exploração e uso do petróleo do pré-sal seria de 350 milhões a 1,4 bilhões de toneladas de CO2, valor que manteria o Brasil entre os quatro maiores emissores de CO2 do mundo, atrás de China, Estados Unidos e Indonésia.
Os mais de 660 milhões de litros de óleo que já vazaram do buraco da BP desde 20 de abril, dia do acidente com a plataforma, vêm alterando a composição química e física da região do Golfo e da costa da Lousianna. “Microorganismos são os primeiros a serem afetados”, explica Mikael Freitas, da Campanha de Oceanos. Pirossomos, que servem de alimento para tartarugas e fitoplânctons, base da cadeia alimentar marinha, começaram a aparecer mortos em toda a região.
Morrem também as algas, que deixam de receber a luz do sol pelo bloqueio da mancha negra no mar e proliferam bactérias que consomem compostos de óleo, mudando ainda mais a composição química do mar. “Os impactos deste vazamento serão vistos e sentidos por muitos anos. Em um momento em que atingimos taxas de extinção mundial mil vezes maior que as naturais, somos obrigados a acompanhar à distância o descaso com a biodiversidade deste que tem tudo pra ser o novo Mar Negro ou, quem sabe ainda, Mar Morto”, diz Mikael.
(Greenpeace Brasil, 17/07/2010)