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intoxicação por chumbo contaminação da água política ambiental uruguai
2010-07-19 | Tatianaf

A contaminação com chumbo, sobretudo entre crianças e adolescentes, continua a avançar inexoravelmente no Uruguai, tendo o silêncio como aliado, apesar de que já faz uma década que dispararam os alarmes ao ser divulgado o primeiro caso grave e as reclamações dos cidadãos se fizeram ouvir.

Desde então, as políticas de saúde para combater este mal têm sido pouco efetivas, segundo especialistas consultados por IPS. Inclusive, algumas diretrizes do Ministério da Saúde Pública (MSP) vão contra as ações tomadas nos países industrializados.

"Até que não seja feito um estudo massivo do chumbo no sangue não saberemos qual é o verdadeiro alcance dessa enfermidade no Uruguai, visto que é irreversível e produz danos físicos, problemas na aprendizagem e severos transtornos de conduta", explicou para IPS a pediatra Elena Queirolo, diretora da Policlínica de Contaminantes Químicos Ambientais, do hospital Pereira Rossell, o principal centro de saúde infantil do país.

No dia 16 de agosto de 2000, Joaquín Cabrera, que na época tinha 6 anos, foi internado e lhe foi diagnosticada anemia crônica. Outra análise posterior revelou um déficit na formação de glóbulos vermelhos. Joaquín vivia em uma zona de casas modestas do bairro montevideano La Teja, que até duas décadas atrás esteve povoado por fábricas metalúrgicas, têxteis e outras. Se não fosse pela preocupação de seus pais, que se informaram através da Internet, ele nunca teria feito o exame para diagnosticar quanto chumbo tinha no sangue, cujo resultado foi de 31,2 microgramas de chumbo por decilitro de sangue (mcg/dl).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) admite como máximo "tolerável" 10 mcg/dl e cataloga o chumbo como "uma das piores ameaças à saúde humana".

O caso de Joaquin ficou em mãos das autoridades do MSP e do governo do Departamento de Montevidéu, que o mantiveram em reserva. Meses depois, o caso foi divulgado pela imprensa e centenas de moradores de La Teja e zonas vizinhas se organizaram e começaram a reclamar o direito a fazer seus exames.

Essa mobilização social deu alguns frutos, como a criação da Policlínica de Contaminantes Ambientais, conhecida como a "clínica do chumbo", que hoje conta com dois pediatras, uma neuropediatra, uma psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, entre outros funcionários.

Na última década "nada mudou", mas a situação piorou bastante", assegurou a diretora desse centro de atenção, que já passou por três governos e três ameaças de fechamento com o argumento de que essa afecção está praticamente controlada.

O máximo tolerável da OMS não é levado em consideração no Uruguai, uma vez que atualmente o nível "preocupante" se situa nos 20 mcg/dl, segundo o MSP.

Enquanto isso, à "clínica do chumbo" continuam chegando crianças com altos níveis de chumbo; inclusive, existem casos quase atingindo o nível de 40 mcg/dl. A maioria deles provêm de La Teja, admitiu Queirolo, considerada uma das principais referências nessa matéria, apesar de que "temos crianças de quase todos os bairros de Montevidéu", o que descarta o mito de que esse tipo de contaminação é um problema dos setores populares, de menos recursos.

O chumbo está no ar, no solo e na água
No ar ainda persistem seus efeitos contaminantes, apesar de que a monopólica firma estatal petroleira Administração Nacional de Combustíveis, Álcool e Portland deixou de produzir gasolinas com tetraetilo de chumbo no início de 2004.

O chumbo é um "contaminante permanente, que não se degrada", coincidem os estudos realizados nos Estados Unidos e um relatório da doutora uruguaia Nelly Mañay, da Cátedra de Toxicologia e Higiene Ambiental da Faculdade de Química da estatal Universidade da República.

Na água potável consumida no Uruguai está presente porque boa parte dos canos através dos quais é distribuída ainda são de chumbo.

O solo também é contaminado pelas fábricas de tintas e de baterias, pelas fundições e pela indústria metalúrgica. Até a atividade realizada nas oficinas onde se faz remoção da pintura dos automóveis com polidoras elétricas representa um risco.

Menos custoso e mais fácil
Enquanto IPS esperava na "clínica do chumbo", uma menina não parava de falar, pular e correr pelos corredores. O rosto de sua mãe revelava cansaço e impaciência; porém, já estão acostumados a essas situações. Algumas crianças são diagnosticadas como hiperativas, a síndrome de déficit de atenção e, às vezes, isso é consequência da contaminação com chumbo.

Antes dos primeiros três anos de vida, o chumbo traz sequelas irreversíveis: diminuição da audição, da visão e da motricidade; hiperatividade e graves transtornos de conduta, da concentração, da aprendizagem e da linguagem.

Há menos de um ano e meio, o Parlamento deixou em suspenso a discussão de um projeto de lei que estabelecia a obrigatoriedade do exame para detectar contaminação no sangue em crianças de até três anos. O mesmo que já se faz nos Estados Unidos.

Existe também a preocupação com os tempos e custos das análises. Atualmente, são feitos dois tipos de exames de sangue por punção venosa. Um na Faculdade de Química da Universidade da República, que recebe as amostras de sangue congeladas; e o outro, no hospital público Filtro.

Existe um pequeno aparelho portátil, conhecido como Leadcare, que com um leve furinho em um dedo (similar ao da análise de glicemia), em poucos minutos, oferece uma mostra bastante fiel da quantidade de chumbo no sangue.

Porém, o MSP não o considera um bom sistema apesar de que esse tipo de tecnologia é utilizado em quase todos os países desenvolvidos. Além da rapidez do resultado, existe uma questão de custos: a análise na Faculdade de Química custa uns 47 dólares, enquanto que o do Leadcare custa uns 4 dólares.

O mais paradoxal é que um desses aparelhos, cujo valor atinge uns 2.000 dólares, foi doado á "policlínica do chumbo" e é usado com frequência. "Porém, tudo indica que não existe vontade para definir e executar uma política sanitária que ataque esse problema de maneira rápida e econômica", concluiu Queirolo.

(Por Pablo Alfano, IPS, Adital, EcoAgência, 17/07/2010)
 


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