No lugar do esgoto que corta a capital gaúcha, águas despoluídas correriam debaixo de uma ciclovia. Esse é o projeto que alunos e professores de Design da Unisinos estão montando em parceria com integrantes da École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs (ENSAD), de Paris. Por enquanto, ainda se trata de uma atividade curricular, elaborada para integrar a Biennal de Saint Etienne, na França, mas poderá ser utilizada para sarar uma das principais feridas ecológicas, situada no coração de Porto Alegre.
A ideia de despoluir o Dilúvio surgiu como um dos desdobramentos propostos na perspectiva de lazer e revitalização de espaços, a partir da lógica eco-sustentável, envolvendo a dimensão sociocultural e de desenvolvimento de riqueza. O projeto prevê a transformação dos 12 quilômetros do Arroio Dilúvio em uma ciclovia, dando uma nova alternativa de deslocamento. Além disso, despoluídas, as águas poderiam gerar energia elétrica, utilizada na iluminação noturna às margens do Arroio. “O Arroio Dilúvio é um dos quesitos fundamentais a serem recuperados, se é verdade que se pretende despoluir o Guaíba”, explica Fábio Parode, um dos professores responsáveis pela elaboração do trabalho.
Em Seul, na Coréia do Sul, segundo Parode, existe um projeto já efetivado muito semelhante ao proposto pelos alunos da Unisinos e da ENSAD. O Dilúvio recebe anualmente 50 mil metros cúbicos de terra e lixo, isso equivale a dez mil caminhões-caçamba cheios. O Dilúvio carrega ainda o esgoto cloacal de três bairros para o Guaíba.
Projeto influenciaria na qualidade de vida
Impossível conhecer o projeto sem imaginar que um dia ele seja colocado em prática. Caso isso ocorresse, quesitos como qualidade de vida, lazer e cultura dos porto-alegrenses seriam beneficiados. A obra também potencializaria o setor de turismo. “A cidade de Porto Alegre é muito reconhecida no exterior por ter realizado várias edições do Fórum Social Mundial. A promoção da qualidade de vida, associada a eventos que estimulem a cultura e a sociabilidade, são agentes importantes para o reconhecimento do valor de um município. Por isso, iniciativas que busquem a revitalização do território, principalmente do ponto de vista cultural e social, são fundamentais para o destaque dentro de contextos globais”, explica o professor Fábio Parode. Mesmo pensando em tecnologias existentes e que podem ser empregadas de imediato, a fase de levantamento de custos não foi abordada, em função do curto período de tempo disponível para a elaboração do projeto. Esta fase vem com o detalhamento do trabalho.
O jovem Michael Leite Melchiors, 28 anos, é aluno do 5º semestre de Design e atuou como mediador durante boa parte da elaboração da proposta de Despoluição do Arroio Dilúvio. Através da troca de experiências com os estudantes europeus, Michael pode conhecer outras formas de projetar. O conhecimento é compartilhado, sem ter de escolher uma única metodologia. As diferenças no trabalho, segundo o estudante, estão nos métodos de apresentação dos projetos. “Aqui há uma preferência por desenhos ‘limpos’ e em três dimensões. Para os estudantes e professores franceses, o traço manual tem muita significância”, salienta.
Melchiors reconhece que as principais dificuldades em realizar um processo como a Despoluição do Dilúvio são os custos e a conscientização, para que o sistema funcione como meio alternativo de locomoção. Entretanto, a motivação na elaboração do projeto vem da possibilidade de pensar em algo que mude a cidade para melhor e que possa ser usada por todos. O caráter de sustentabilidade é muito importante para o futuro de todas as metrópoles e tem de ser pensado em qualquer projeto. “Temos a noção de que se as políticas e recursos fossem utilizados de maneira adequada, muito poderia ser mudado para o bem-estar coletivo.”
(IHU-Unisinos, 16/07/2010)