A política governamental de estímulo a criação de corporações nacionais tem mais um integrante, a Nova Braskem. A compra da Quattor permitiu a formação do 8° maior grupo do mundo. Odebrecht e Petrobrás, sócios na nova empresa, aumentam ainda mais o poder no setor. Especialistas demonstram preocupação com uma eventual mudança de rumo a partir de 2011.
Apesar do risco político, os desdobramentos somente serão conhecidos no longo tempo. Os participantes do setor e os consumidores por sua vez, podem sentir as consequências em um horizonte mais curto. Para entendê-las, dividirei o artigo em três partes: (a) evolução do segmento, (b) estratégias e cadeia produtiva e (c) impactos ao consumidor.
O setor começou a dar seus primeiros passos na década de 50, com o crescimento da demanda pelo plástico. Capuava, no ABC paulista, foi o primeiro pólo petroquímico, em 1972. Camaçari, na Bahia, Triunfo, no Rio Grande do Sul, e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, completam a lista. Dois novos projetos – Comperj, no Rio, e Suape, em Pernambuco, estão previstos para os próximos anos.
Até o ano de 1995, somente a Petrobrás era autorizada a comercializar a nafta, principal matéria-prima para o setor, seguido pelo gás natural. O fim do monopólio autorizaria empresas privadas a operar por intermédio de concessões. Odebrecht, Ipiranga, Ultra, Unipar e Suzano foram os principais players que aqui se instalaram.
O novo século foi marcado pela consolidação do setor. A Braskem, sociedade entre Odebrecht e Mariani, fundada em 2001, cresceu basicamente através de fusões e aquisições. Tornou-se a líder, sendo a Quattor sua principal oponente. Neste mercado, economia de escala e produtividade são aspectos essenciais para sobreviver à concorrência.
A cadeia produtiva é composta por grandes empresas, denominadas como 1ª e 2ª geração. Há nesta etapa o processamento da nafta em produtos, como eteno, benzeno, polietileno e PVC. A Nova Braskem detém o controle nestes dois estágios, enquanto sua sócia Petrobrás, o fornecimento da nafta. Uma rara combinação de monopólios privado e estatal.
A estratégia de participar em elos anteriores ou posteriores da cadeia é denominada integração vertical. As empresas que a utilizam tendem a reduzir a incerteza em suas operações, aumentando suas margens, uma vez que o lucro permanece dentro de casa. Sua utilização é propícia em cenários voláteis ou em situações em que controlar a matéria-prima é um diferencial competitivo.
A cadeia continua com os fabricantes de 3° geração - empresas grandes, médias e pequenas. O micro empresário, fabricante de embalagens, sacolas plásticas, filmes e produtos injetados, têm como opções comprar do gigante ou importar, tarefa bastante desestimulante para quem é pequeno. Associações ou cooperativas podem ser uma saída para aumentar o poder de barganha.
A quantidade de itens produzidos é imensa. Olhe o interior de seu veículo, os eletrodomésticos e eletrônicos recém-adquiridos, os brinquedos de seus filhos, as embalagens de alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza. Garrafas PET e sacolas plásticas - as vilãs do meio ambiente - são os filhos mais famosos e polêmicos.
Vejamos o impacto nas gôndolas do supermercado. Qual seria sua reação a um aumento de preços, provocado pelo material utilizado na embalagem? Talvez aquele produto um pouco mais caro, embalado em papel, vidro ou metal fosse sua escolha. Para não perder mercado, desenhistas industriais seriam recrutados, procurando formas para reduzir o custo.
Este exemplo traz apenas aplicações em embalagens. Em outros mercados esta substituição ou readequação não seja possível ou viável, por condições técnicas ou especificações de projeto.
A decisão final sobre os impactos desta compra sobre a economia brasileira ficará sobre a batuta do CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Aliás, trabalho é que não falta aos seus membros, haja vista as inúmeras fusões, aquisições e alianças estratégicas que agitaram o mercado brasileiro.
A surpresa neste caso talvez não esteja na resposta do órgão, mas sim na rapidez em sua análise. Além da influência do chefe, outubro está cada vez mais próximo. Alimentos, varejo, móveis, eletrodomésticos, eletrônicos e bancos podem esperar um pouco mais.
(Por Marcos Morita, texto enviado por e-mail, 10/07/2010)
Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas e professor da Universidade Mackenzie. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.
Contato: professor@marcosmorita.com.br / www.marcosmorita.com.br