A Suzano Papel e Celulose recebeu ontem a aprovação para concluir a aquisição da Futuragene, empresa inglesa especializada na pesquisa e desenvolvimento de biotecnologia direcionada aos mercados de culturas florestais e biocombustíveis.
A operação, avaliada em US$ 82 milhões, deverá ser concluída ao longo do terceiro trimestre e elevará a companhia brasileira à condição de uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo, permitindo o ingresso em novas áreas de atuação. "Ainda estamos definindo qual será o nosso modelo de negócio", informa o diretor executivo de Estratégia e Novos Negócios da Suzano, André Dorf.
Entre as alternativas estariam desde o fornecimento de tecnologia a empresas interessadas até a possibilidade de a Suzano se transformar em uma empresa com atuação no campo da biotecnologia. Com isso, poderia buscar desenvolver produtos como derivados aromáticos hoje produzidos a partir do petróleo ou tecnologias usadas para o desenvolvimento de culturas como o milho e o algodão. "Essa definição deverá ocorrer até o final deste ano", diz Dorf, que também é o diretor de Relações com Investidores da Suzano.
A aquisição da Futuragene, autorizada ontem pela Corte inglesa, permitirá à Suzano incorporar tecnologias que garantam maior resistência e produtividade às plantações. "Estamos falando em ir no DNA e transformar geneticamente a árvore", afirma o executivo. Como consequência, a Suzano poderá ampliar sua produtividade e reduzir a área necessária para a formação da base florestal.
Pesquisa. A companhia já promove testes em árvores geneticamente modificadas, mas tais espécies, localizadas no interior de São Paulo, ainda não são utilizadas comercialmente. A pesquisa já tem aproximadamente quatro anos e tem sido acompanhada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e demais autoridades competentes. "Essas espécies já têm diversas características, mas principalmente crescimento acelerado, resistência a pragas e doenças e à seca", afirma.
A aquisição da Futuragene ampliará a equipe de pesquisa e desenvolvimento florestal da Suzano de aproximadamente 45 pessoas para mais de 70 pesquisadores. Além disso, a Suzano poderá ter acesso a pesquisas que hoje são feitas em diversas regiões, como Estados Unidos, China e Israel, onde a Futuragene também possui um centro de pesquisa. Juntas, as duas companhias possuirão convênios com 11 universidades no Brasil e no exterior.
Assim como já ocorre no exterior, a Suzano também deverá iniciar estudos sobre a viabilidade de construir uma biorrefinaria dentro de uma fábrica de celulose. Segundo Dorf, a companhia já está em conversações com fornecedores de tecnologia. "Não estudamos construir um polo petroquímico. Seria uma unidade em associação com a fábrica de celulose", diz. A unidade seria abastecida com licor negro, um subproduto resultante do processo de fabricação da celulose.
A Suzano já detinha aproximadamente 8% do capital social da Futuragene desde 2001. Em maio passado, a companhia brasileira anunciou o interesse em adquirir os 92% restantes. A operação, no entanto, só foi oficializada ontem, após a aprovação da Corte inglesa - os acionistas da Futuragene haviam aprovado no mês passado.
Segundo Dorf, a direção da Suzano definiu que a companhia deixará de ter seus papéis listados na London Stock Exchange, mas ainda não há uma posição oficial se a Futuragene terá seu capital fechado. Essa definição deverá evidenciar quais são as pretensões da Suzano na área de biotecnologia. "O investimento nos dá a segurança de que seremos competitivos no futuro", afirmou o executivo, lembrando os desafios que serão enfrentados por empresas do setor de papel e celulose diante de um cenário de amplas mudanças no clima mundial.
(Por André Magnabosco, O Estado de S.Paulo, 14/07/2010)