O grupo de pesquisadores fez também um mapeamento das microbacias afetadas pela destruição do ambiente original no seu entorno.
Entram nessa categoria bacias com 70% ou mais da área desmatada e com menos de 30% de sua extensão correspondente a áreas protegidas por lei.
A partir desse critério, ou avaliando o impacto direto de hidrelétricas sobre as bacias, os pesquisadores puderam classificar as áreas estão em estado crítico.
Resultado: 40% das microbacias brasileiras, nas quais vivem 344 espécies de peixes que só existem nelas, estão nessa situação.
O quadro é especialmente feio nas bacias do Paraná (78% em estado crítico), Uruguai (67%) e nas várias pequenas bacias do Atlântico (mais de 40%).
Nas microbacias perto da costa, a pequena dimensão das redes de rios ajuda a explicar as ameaças aos peixes, já que eles naturalmente têm distribuição mais restrita, conta Buckup. Essas áreas têm densa ocupação humana e o muitas hidrelétricas.
"No rio Grande [fronteira de São Paulo com Minas Gerais] havia cânions, com espécies adaptadas a corredeiras. Esses bichos desapareceram dali. Agora há é um lago com até espécies amazônicas e africanas", afirma.
De fato, esses espécies invasores são outra grande ameaça nas regiões mais ocupadas. Em todos os rios do planalto de São Paulo, como o Tietê, embora a diversidade de espécies exclusivas hoje seja relativamente baixa, é bem provável que muitas tenham desaparecido no começo do século 20 sem nem terem sido registradas pela ciência.
Aliás, entre as oito espécies que o estudo aponta como ameaçadas na região em que será construída a usina de Belo Monte, no Xingu, está uma vedete dos aquários, o cascudo-zebra (Hypancistrus zebra).
Segundo o ictiólogo, é preciso planejar com cuidado áreas protegidas que englobem as microbacias críticas para evitar extinções. (RJL)
(Folha de São Paulo, 10/07/2010)