A Creluz recebeu nesta semana o Ashden Award, uma das mais importantes condecorações de energia limpa do mundo, por seu trabalho de levar eletricidade para comunidades gaúchas através de pequenas centrais hidrelétricas
O interior do Rio Grande do Sul, assim como boa parte das pequenas cidades do Brasil, sofre com a escassa e instável rede de distribuição de energia elétrica. Isso resulta em dificuldades para a vida das pessoas e para a prosperidade da economia. Cansados de esperar pela energia que nunca chegava, um grupo de agricultores, comerciantes, industriais e autoridades se reuniu em 1966 no município de Palmeira das Missões e resolveu fundar uma cooperativa com o seguinte objetivo: eletricidade confiável e barata para todos.
No começo a Creluz (Cooperativa de Energia e Desenvolvimento Rural do Médio Uruguai) comprava e distribuía energia tradicional da rede, mas desde 1999 a cooperativa passou a utilizar pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) para gerar sua própria eletricidade. Hoje ela atua em 36 cidades beneficiando mais de 23 mil famílias, cerca de 80 mil pessoas.
Assim a cooperativa ajuda no desenvolvimento econômico da região, evita que os jovens precisem deixar o campo para trabalhar nas grandes cidades, melhora a condição de vida de milhares de famílias e reduz emissões de gases do efeito estufa – uma vez que as pessoas não precisam mais queimar lenha ou usar geradores a diesel. Tudo isso utilizando a energia limpa e renovável dos rios com pequeno impacto ambiental, já que cada PCH obedece a rígidas normas técnicas para ser instalada.
“Não inundamos áreas, não alteramos cursos de rios e não movemos as pessoas de suas casas. Nossas pequenas centrais hidrelétricas têm o mínimo impacto para o meio ambiente. Além disso, os consumidores são nossos associados e pagam pouco por uma energia confiável”, afirma o presidente da Creluz, Elemar Battisti.
Reconhecendo todos esses méritos (veja o vídeo), a organização do Ashden Award, um dos mais renomados prêmios internacionais da área de energias limpas e sustentabilidade, condecorou a cooperativa gaúcha nesta semana em Londres.
“O que está sendo feito por estes vencedores mundiais, como a Creluz, é muito poderoso e embora pareça pequeno, se reveste de um profundo significado moral, ambiental e econômico”, declarou o mestre da cerimônia de premiação o jornalista David Altemborough, famoso por seus documentários para a BBC e uma das personalidades mais influentes do planeta na defesa dos ecossistemas.
Ao receber a premiação, Battisti reafirmou os compromissos da cooperativa com a continuidade da geração de energia limpa e disse que a caminhada já percorrida prova o acerto de decisões tomadas pela Creluz no decorrer dos anos.
“A partir de agora, a Creluz não é só do Médio Uruguai, mas do Mundo, já que muitos investidores, entidades filantrópicas, ONGs de energia limpa, autoridades de energia em geral e países em desenvolvimento sabem que existe a Creluz e onde encontrá-la”, afirma uma nota da cooperativa sobre a premiação.
Como Funciona
A Creluz possui e opera seis PCHs, com capacidades variando de 0.27 MW até 1.2 MW, gerando um total de 3,9MW. A cooperativa tem ainda 4,5 mil km de linhas de transmissão e está licenciada para alimentar 36 municípios em uma área de 13 mil km2.
Cada consumidor paga sua conta conforme uma tarifa fixada pela Creluz, que possui agências de recebimento em todas as cidades que atua. Os preços são similares aos das companhias elétricas tradicionais, cerca de R$ 0,37 por kWh, sendo que os ricos pagam um pouco a mais e os carentes recebem até 64% de desconto. Além disso, 600 famílias têm a garantia de energia gratuita através dos programas sociais da cooperativa.
“O preço da eletricidade é o mesmo nos últimos seis anos e agora posso ligar até dez compressores de uma vez que não há problema da energia cair como acontecia antigamente, quando eu não podia usar mais de dois juntos”, disse Nercei da Silva, proprietário de uma mina de ametistas.
Os benefícios também aparecem para os produtores de laticínios da região. “Em outras cidades as pessoas perdem parte de sua produção por quedas de energia. Aqui isso jamais aconteceu e eu pago apenas uma taxa mínima pela eletricidade”, afirmou o agricultor André Cronbauer.
Existem planos para a expansão da atuação da cooperativa. Já foram identificados locais para mais dez PCHs do tamanho das que a Creluz atualmente opera e dois que poderiam suportar projetos maiores de 17 MW e 24 MW.
A velocidade deste crescimento dependerá do interesse de possíveis investidores. A exposição conseguida pela conquista do Ashdem Award já rendeu alguns frutos e vários fundos de investimento sociais com atuação na América Latina visitarão a Creluz nos próximos meses para propor trabalhos em conjunto.
“Produzir energia limpa, sem agredir ao meio ambiente a preços módicos é o nosso compromisso com o futuro”, concluiu Battisti ao receber a premiação.
(Carbono Brasil, 09/07/2010)