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intoxicação por chumbo
2010-07-09 | Tatianaf

A contaminação com chumbo, sobretudo entre as crianças menores, continua seu avanço inexorável no Uruguai, com o silêncio como aliado, apesar de já terem soado os alarmes há uma década, quando foi divulgado o primeiro caso grave e aumentaram os protestos dos cidadãos. Desde então, as políticas de saúde para combater este mal têm sido erráticas e pouco efetivas, segundo especialistas ouvidos pela IPS. Tanto é assim – acusam – que algumas diretrizes do Ministério de Saúde Pública (MSP) seguem na contramão das ações tomadas nos países industrializados.

“Enquanto não houver um profundo estudo sobre a presença de chumbo no sangue, não saberemos qual é o verdadeiro alcance no Uruguai desta doença irreversível, que produz danos físicos e severos transtornos de aprendizagem e conduta”, explicou à IPS a pediatra Elena Queirolo, diretora da Policlínica de Contaminantes Químicos Ambientais do Hospital Pereira Rossell, o principal centro de saúde infantil do país.

No dia 16 de agosto de 2000, Joaquín Cabrera, na época com seis anos, foi internado e teve diagnosticada anemia crônica. Um exame posterior revelou déficit na formação de glóbulos vermelhos. Joaquín vivia em uma área de casas modestas do bairro La Teja, em Montevidéu, que até duas décadas atrás esteve povoado por metalúrgicas, fábricas têxteis e outras. Não fosse pela preocupação de seus pais, que se informaram pela Internet, a criança nunca teria feito seu primeiro exame de plumbemia, cujo resultado foi de 31,2 microgramas de chumbo por decilitro de sangue (mcg/dl). A Organização Mundial da Saúde admite como máximo “tolerável” 10 mcg/dl e cataloga o chumbo como “uma das piores ameaças à saúde humana”.

O caso de Joaquín ficou nas mãos das autoridades do MSP e do governo do departamento de Montevidéu, que não divulgaram o fato. Alguns meses depois, foi divulgado pela imprensa, e centenas de moradores de La Teja e áreas vizinhas se organizaram e começaram a reclamar seus exames. Esta mobilização social deu alguns frutos, como a criação da Policlínica de Contaminantes Ambientais, conhecida como a “clínica do chumbo”, que hoje tem dois pediatras, uma neuropediatra, uma psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, entre outros funcionários.

Na última década, “nada mudou, e a situação piorou bastante”, afirmou a diretora deste centro de saúde, que já passou por três governos e três ameaças de fechamento, com o argumento de que esta afecção está praticamente controlada. O máximo tolerável pela OMS não é considerado no Uruguai, pois atualmente o nível “preocupante” situa-se nos 20 mcg/dl, segundo o MSP. Enquanto isso, na clínica do chumbo continuam chegando meninos e meninas com altos níveis de chumbo. Inclusive com casos próximos dos 40 mcg/dl.

A maioria deles procede de La Teja, admitiu Queirolo, considerada uma das principais referências nessa matéria, embora “tenhamos crianças de quase todos os bairros de Montevidéu”, o que desfaz o mito de que este tipo de contaminação é um problema dos setores de baixa renda. O chumbo está no ar, no solo e na água. No ar ainda persistem seus efeitos contaminantes, embora a estatal petroleira Administração Nacional de Combustíveis, Álcool e Portland (um monopólio) tenha deixado de produzir gasolina com tetraetilo de chumbo no começo de 2004.

O chumbo é um “contaminante permanente, que não degrada”, afirmam estudos feitos nos Estados Unidos e um informe da doutora uruguaia Nelly Mañay, da Cadeira de Toxicologia e Higiene Ambiental da Faculdade de Química da estatal Universidade da República. Na água potável consumida no Uruguai está presente porque boa parte dos encanamentos pelos quais é distribuída ainda é de chumbo. O solo também é contaminado pelas fábricas de tintas e baterias, pelas fundições e indústrias metalúrgicas. Até a atividade das oficinas representa um risco, por remover com polidoras elétricas a tinta dos automóveis.

Enquanto a IPS aguardava na clínica do chumbo, uma menina não parava de falar, pular e correr pelos corredores. A expressão no rosto da mãe revelava que não aguentava mais, mas no local estão acostumados a estas situações. Algumas crianças são diagnosticadas como hiperativos, ou síndrome de déficit de atenção, e às vezes isso é uma consequência da contaminação por chumbo. Antes dos primeiros três anos de vida, o chumbo deixa sequelas irreversíveis: redução da audição, da visão e da motricidade; hiperatividade e graves transtornos de conduta, concentração, aprendizagem e linguagem.

Há menos de um ano e meio, o parlamento deixou suspensa a discussão de um projeto de lei que estabelece a obrigatoriedade do exame de plumbemia em crianças de até três anos, o que nos Estados Unidos já é uma realidade. Também existe a preocupação com a demora e os custos dos exames. Atualmente são feitos dois tipos de análises de sangue por punção venosa. Um na Faculdade de Química da Universidade da República, que recebe as amostras de sangue congeladas, e outro no hospital público Filtro.

Existe um pequeno aparelho portátil, conhecido como Leadcare, que fornece um resultado bastante fiel da quantidade de chumbo no sangue, em poucos minutos, a partir de uma gota obtida com um pequeno furo no dedo, como no exame de glicemia. Contudo, o MSP não considera este um bom sistema, embora este tipo de tecnologia seja usada em quase todos os países desenvolvidos. Além da rapidez do exame, há uma questão de custos: a análise na Faculdade de Química custa US$ 47 enquanto o do Leadcare fica em torno dos US$ 4.

O mais paradoxal é que um destes aparelhos, cujo valor está em torno dos US$ 2 mil, foi doado à clínica do chumbo e é usado com frequência. “Tudo indica que não existe vontade para armar uma política sanitária que ataque este problema de forma rápida e econômica”, concluiu Queirolo. IPS/Envolverde

(Por Pablo Alfano, da IPS, Envolverde, 9/7/2010)


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