Acusado de alterar paisagem de área protegida, Leal diz ter "todas as licenças" e atribui denúncia à eleição
Candidato afirma que não havia vegetação nativa; terreno não consta da declaração de bens registrada no TSE
O Ibama investiga Guilherme Leal, candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva (PV), por suposto crime ambiental em sua fazenda no litoral da Bahia.
O imóvel fica numa área de proteção ambiental no município de Uruçuca, vizinho de Itacaré, e não aparece na declaração de bens que o empresário entregou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A propriedade foi alvo de uma blitz na quinta-feira passada, após denúncia de que o controlador da Natura teria desmatado área de vegetação de restinga para erguer um condomínio de luxo.
Os fiscais que vistoriaram a fazenda constataram a presença de "edificações e outras instalações que alteraram a paisagem natural de área de Mata Atlântica", segundo relatou o presidente do Ibama, Abelardo Bayma, em nota enviada à Folha.
Leal nega ter cometido crime ambiental e atribui a "objetivos político-eleitorais" a denúncia feita ao Ibama, que não revelou sua fonte.
Na vistoria, os analistas ambientais fotografaram os canteiros de obra e os supostos danos à vegetação na propriedade. As observações estão em relatório enviado à sede do órgão, em Brasília.
Notificação
O empresário foi notificado a apresentar cópias do projeto e das licenças ambientais exigidas para a liberação do empreendimento.
No documento, o Ibama cobra explicações sobre a implantação de uma rede de energia e a construção de bangalôs na área protegida. Após uma semana, os papéis ainda não foram entregues.
Os responsáveis pela fiscalização ambiental dos escritórios do Ibama em Ilhéus e Salvador se disseram impedidos de dar entrevista, por norma baixada em maio pela presidência do instituto.
A assessoria de Leal disse que a obra tem "todas as licenças e autorizações dos órgãos competentes" e classificou a notificação de "procedimento de praxe" do Ibama.
"Leal está aberto a qualquer esclarecimento que for solicitado pelas autoridades e atribui essas falsas denúncias a objetivos político-eleitorais", afirmou, em nota.
O empresário disse que comprou a fazenda para uso particular e de lazer, mas optou por registrá-la em nome da Modusvivendi Participações Ltda, que aparece em sua relação de bens.
Inicialmente, a assessoria não soube descrever as atividades da empresa. Em novo contato telefônico, informou que ela teria sido criada para administrar a fazenda.
Na segunda-feira, a Folha pediu informações sobre 12 empresas que o candidato diz possuir além da Natura. Ele não respondeu, alegando direito à privacidade e ao sigilo fiscal.
Na fazenda baiana, Leal diz construir uma casa e cinco bangalôs para uso particular. As construções ocupariam quatro hectares de área que, segundo ele, "há muitos anos estavam desprovidos de vegetação nativa".
Na declaração de bens entregue ao TSE, o empresário só listou cinco imóveis, todos no Estado de São Paulo.
(Folha de São Paulo, 08/07/2010)