A ONG ambientalista Greenpeace criticou o Plano Brasil 2022, elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) do governo federal e submetido a consulta pública. Para a organização, a iniciativa que estabelece objetivos e ações para as áreas sociais, de economia e de infraestrutura do país falha ao deixar de estabelecer metas de aumento da eficiência dos sistemas de geração, transmissão, distribuição e também no consumo de energia elétrica.
"Dobrar o consumo per capita é uma necessidade relativa. Podemos ser mais eficientes nos processos produtivos e ter crescimento da economia utilizando cada vez menos energia", aponta o coordenador da campanha de energias renováveis da ONG, Ricardo Baitelo. O governo estima que o país pode crescer 7% anualmente nos próximos 12 anos, mas que para tanto precisará dobrar o consumo energético per capita.
Segundo o ambientalista, o plano mantém a política de construção de grandes hidrelétricas em regiões remotas e a dependência de linhas de transmissão de "milhares de quilômetros" para abastecer as principais atividades econômicas e as maiores cidades do país. "Se fala muito pouco em relação à eficiência das linhas de transmissão", observou.
O planejamento do governo prevê a expansão da capacidade instalada de geração hidrelétrica em 5,1 Gigawatts (GW) por ano até 2022. Baitelo acredita que a Amazônia será usada para esta finalidade, o que "fatalmente" causará impactos às populações locais, a exemplo do receio referente à futura Usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA).
O ambientalista estima ainda que os impactos sociais e ambientais irão gerar conflitos e demandas na Justiça, e também lamenta que o plano não contemple a repotencialização das usinas hidrelétricas já instaladas, com a substituição de turbinas antigas por equipamentos novos e mais eficientes.
"A questão da sustentabilidade, de forma geral, não está presente", acrescentou Baitelo, mesmo reconhecendo que o plano trata da utilização de equipamentos eficientes e do aumento das fontes renováveis na matriz energética. Segundo ele, o governo "já não é mais resistente", por exemplo, ao uso de energia eólica. Mesmo assim, não define regras claras e nem tem uma programação de médio e longo prazos para o leilão relacionado a esta fonte energética renovável.
Outro ponto do plano criticado pelo ambientalista é a meta do governo de ampliar a participação das centrais nucleares na matriz elétrica brasileira e produzir mais urânio enriquecido. "Ainda não temos solução para o descarte do material radioativo. São precárias as condições de operacionalização nas minas de Caitité BA que, praticamente sozinha, provê a produção do urânio brasileiro. Com todos os problemas de licenciamento de operação e risco de vazamento de material radioativo , querer aumentar a capacidade dessa mina é realmente perigoso".
Cerca de 20 mil entidades civis devem contribuir com críticas e sugestões ao plano. De acordo com a SAE, qualquer pessoa pode se manifestar sobre o Brasil 2022 e encaminhar observações, sugestões e críticas. O documento está disponível para consulta na página da SAE na internet.
(Terra, 06/07/2010)