Uma tendência para destacar os piores cenários acabou enfraquecendo o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), mas, no geral, trata-se de um documento confiável, sugere um novo estudo da PBL (Agência Holandesa de Avaliação Ambiental).
O estudo foi encomendado pelo governo holandês após a descoberta de que um dos erros do relatório do IPCC, de 2007, foi introduzido por cientistas do país. O relatório dizia que 55% da Holanda encontra-se abaixo do nível do mar, o dobro do valor real.
No todo, os avaliadores holandeses disseram que as conclusões do relatório do IPCC são "bem fundamentados". Mas algumas conclusões "dão uma impressão errada", parecendo ter uma base científica firme.
Por exemplo, o IPCC concluiu que, até 2050, "a disponibilidade de água doce no centro, sul, leste e sudeste da Ásia, principalmente em grandes bacias fluviais, deve cair". Isso é importante porque cerca de 3 bilhões de pessoas vivem nesta parte do mundo e a maioria depende de rios correntes para irrigar suas plantações.
No entanto, alguns dos estudos citados usaram como medida o fluxo absoluto dos rios, enquanto outros avaliaram o fluxo per capita. Essa diferença "torna difícil estabelecer uma linha de raciocínio" e significa, segundo os avaliadores holandeses, que a conclusão não seria totalmente confiável.
Em outro caso, o IPCC afirmou que "na média, é muito provável o aumento de riscos de saúde" como consequência das mudanças climáticas. Mas, de acordo com os avaliadores da PBL, o relatório não fornecia "um lastro quantitativo para defender a afirmação".
A avaliação da PBL também averiguou uma afirmação do IPCC de que a produtividade da agricultura irrigada por chuva em alguns países africanos poderia ser reduzida em até 50% até 2050, declaração repetida pelo diretor do IPCC, Rajendra Pachauri.
A PBL disse que "a afirmação não está diretamente relacionada a mudança climática, mas a variabilidade climática: em certos anos, secas podem causar quedas de até 50% em produtividade". Isso já acontece, independentemente de mudanças climáticas futuras, diz a agência.
A fonte da declaração é um artigo de um acadêmico marroquino que fez referência a outros estudos não encontrados pelos avaliadores da PBL. "Do jeito que está, a afirmação não pode ser rastreada até estudos científicos originais."
O presidente do relatório do IPCC, Martin Parry, do Centro de Política Ambiental, do Imperial College, em Londres, disse que pequenos erros foram encontrados e que sua equipe os aceita. "Recebemos bem a conclusão desse relatório [da PBL], que diz em sua essência que nossas conclusões são seguras, sólidas e confiáveis."
(Folha Online, 06/07/2010)