A situação ambiental e os desastres ecológicos atuais mostram a necessidade de tomar uma decisão sobre como tratar o meio ambiente, declarou o ambientalista e oceanógrafo Jean-Michel Cousteau, filho do explorador marinho Jacques Cousteau que ministrou ontem, em Porto Alegre, conferência no Fronteiras do Pensamento. Ele apontou como a maior catástrofe da história a explosão da plataforma Deepwater Horizon em 20 de abril, no Golfo do México, que afundou e deixou aberto um poço de petróleo no fundo do mar de onde ainda vazam até 30 mil barris por dia.
"Pode ser que catástrofes maiores continuem acontecendo. Pode levar décadas. O fato é que estamos em um ponto crítico na história da humanidade. E a alternativa seria desprovida de interesses", afirmou Jean-Michel Cousteau, acrescentando a imagem: "Vimos golfinhos fêmeas amamentando seus filhotes naquele lamaçal de petróleo. É o que estamos fazendo com a gente mesmo", lamentou o ambientalista.
Jean-Michel Cousteau é o responsável pela Ocean Future Society (OFS), organização pró-meio ambiente fundada por ele em 1999, e disse que o combate à fome e o incentivo à educação são os caminhos para que o entendimento evolua. "É através da educação que as pessoas serão capazes de decidir sobre o futuro. Quem tem fome não se preocupa com o meio ambiente. Precisamos antes acabar com a miséria." O ambientalista também apontou a responsabilidade coletiva: "Todos têm decisões diárias para tomar, como, ao deparar com centenas de anúncios publicitários, negar a crença de que consumir mais irá nos tornar mais felizes; ou, ao produzir um lixo, entender que ele provavelmente irá para o mar".
No olhar de Cousteau, a dimensão do lucro está sendo revista conforme os danos. "Toda a indústria pesqueira foi afetada com o vazamento no Golfo. A empresa responsável gastará mais de 20 bilhões de dólares para consertar o estrago. Um estrago caro causado por descuido e irresponsabilidade, visando ao maior lucro imediato. E quem pagará financeiramente serão os acionistas da empresa", disse, acrescentando: "Essa mancha está chegando a todos os continentes, mas os olhos não veem". Cousteau pretende incentivar diálogos e buscar soluções para proteger o planeta. "Nossa organização está disposta a ajudar pessoas, empresas ou governos que queiram melhor gerenciar riquezas naturais. Usamos a diplomacia. Não criticamos, não nos queixamos. Sentamos na mesma mesa com os que tomam decisões."
(Por LEDA MALYZ, Correio do Povo, 06/07/2010)