Tem havido um infindável número de artigos sobre Belo Monte. Eles vêm de todos os escaninhos da sociedade. Gente que nunca escreveu se revela, instigada pela polêmica, se é que se pode chamar de polêmica. Está mais para crueldade. Belo Monte está despertando a capacidade perdida de manifestação das pessoas. O efeito é positivo. Saímos do marasmo e do monocórdio futebolístico.
A falta de manifestações é indicadora do quanto não nos aprofundamos nas grandes questões ou na simples decisões cotidianas. Desde comprar um celular novo, de última geração, até a escolha do fósforo que vai acender o carvão para o churrasco do final de semana. Como é importante que os escritos, em qualquer veículo na web, aflorem trazendo idéias e questionamentos que podem chegar às instâncias superiores. Em gente como o presidente da República ou os candidatos às próximas eleições. Diz um ditado que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
Escrever, levantando dúvidas ou discordando, significa que se está abrindo os olhos para uma realidade até então fora do nosso alcance. Já não há em torno do assunto Belo Monte ânimos exaltados ou os chamados radicalismos ideológicos. Também não vejo “ignocentes”, nominação dada por um certo físico famoso a pessoas por ele consideradas ignorantes e inocentes. A diversidade tem sido perceptível não só nos artigos como também nos comentários sobre eles. Amadurecemos ou estamos tomando contato com a realidade?
Não há melhor forma de começar a mudar as estratégias para atingir um grau de desenvolvimento equânime do que ir ao cerne da questão ou questões. Estamos, no caso de Belo Monte, esgotando todas as possibilidades de análise. Isso é salutar e desvenda aquilo que às vezes se quer escondido. O Brasil precisa mais do que nunca que as pessoas se engajem nos temas que têm pautado blogs, redes sociais, jornais, revistas eletrônicas, alternativos ou não. Ainda é pouco diante da fúria avassaladora das propostas do governo federal para expropriação dos recursos da Amazônia. Mas é um começo promissor.
Belo Monte está sendo um marco nesse sentido. Gente desconhecida entrando na discussão, anônimos postando comentários, pessoas que permanecem de forma acalorada argumentando em redes sociais. Enriquecimento da cidadania. Todos, parece, querem “dar um pitaco” sobre a questão. Não importa se têm algum conhecimento do tema, importa é que estão aprendendo e querem sair do escuro. Alguma sensibilidade está se descortinando.
É perceptível o interesse de pessoas antes alheias ao assunto. Hidrelétricas? Rio Xingu? Energia? São jovens, muitos deles, que buscam informações para um trabalho escolar ou de conclusão de curso. Estudantes de jornalismo ou recém-formados procuram entender as firulas do imbróglio chamado Belo Monte. Até nomes famosos estão se esforçando. Mulheres e homens, empresários, consultores, advogados, economistas. É uma imensidão de saberes e não saberes em torno dos diversos aspectos do projeto mais falado da história.
O amadurecimento dos usos da internet, a pesquisa, contribui com essa explosão de curiosidade. O Youtube tem ajudado muito. Centenas de vídeos sobre Belo Monte estão disponíveis: as manifestações dos movimentos sociais, dos indígenas, matérias da grande mídia, discursos inflamados de Lula e as propagandas da Eletronorte. Pode-se dizer que o assunto está cercado e cada vez mais alguém lança uma nova dúvida que acaba despertando outros e mais outros criando uma verdadeira corrente.
É verdade, Belo Monte finalmente “caiu na boca do povo”!
(Bolg Telma Monteiro, 05/07/2010)