Planejamento adequado e cuidados preventivos, como um sistema de alerta contra enchentes, poderiam ter ajudado a evitar as mortes ocorridas por causa das chuvas em Alagoas. Segundo a pesquisadora Maria José Brollo, diretora do Núcleo de Geologia de Engenharia e Ambiental do Instituto Geológico (IG), órgão ligado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, o Brasil tem conhecimento técnico adequado para lidar com situações como essas, “mas falta um pouquinho de conexão para enfrentar politicamente esses problemas”.
Segundo ela, o ideal seria que as cidades brasileiras, muitas delas reproduzindo as mesmas condições encontradas em Alagoas e crescendo muito próximas às margens dos rios, tivessem um planejamento adequado para evitar que essas áreas fossem ocupadas. Mas com o problema já criado e as cidades localizadas em locais frágeis e suscetíveis a problemas, a solução, de acordo com a pesquisadora, passaria por uma atuação preventiva dos poderes públicos.
“Os poderes públicos municipais e estaduais têm que tomar cuidados preventivos para isso. Têm que preparar as populações para enfrentar situações de risco e têm que tomar cuidado para que não haja expansão das áreas de risco”, afirmou Maria José.
Entre essas soluções estariam os sistemas de alerta contra enchentes, como as réguas de medida dos rios que já existem em algumas cidades brasileiras. Mas para que elas sejam usadas com eficiência nas áreas de risco será necessário uma conexão entre os poderes públicos. “Não vai ser uma prefeitura pequenininha lá de um lugar distante que sozinha vai conseguir definir isso. Existem ações que precisam ser desenvolvidas pelo governo do estado e envolve interlocução de diversas secretarias, das prefeituras. E existem ações de ordem municipal para a manutenção dos locais, para a manutenção do lixo que não pode ser jogado nos rios e evitando que se formem novas áreas de risco. Todo mundo tem que estar conectado”, defendeu.
“Se houvesse sistema de alerta lá (em Alagoas) como existem em outros países do mundo, as pessoas que estão no entorno dos rios ali não teriam morrido. Mas a destruição teria ocorrido. O sistema de alerta só ocorreria antes da água chegar no pescoço”, disse.
Três técnicos do Instituto Geológico de São Paulo estiveram na cidade de Santana do Mundaú, em Alagoas, para avaliar as causas da tragédia que destruiu praticamente 70% da área urbana da cidade. O trabalho dos técnicos foi inicialmente definir uma área sem risco de escorregamento ou inundação para instalar cerca de duas mil barracas para abrigar a população que foi atingida pelas enchentes. “A cidade foi tão destruída que não havia escola, igreja ou qualquer lugar para colocar os desabrigados”, explicou Maria José.
Depois desse trabalho, a equipe avaliou um local adequado para a instalação de um novo loteamento para a construção emergencial de casas para os habitantes de Santana do Mundaú e um local para a colocação dos entulhos da cidade. “E, finalmente, eles fizeram recomendações sobre a situação que se encontra lá em termos geológicos, de escorregamento e inundação”. O relatório, já finalizado, foi entregue para a Defesa Civil local e para a prefeitura da cidade. Outras equipes do IG de São Paulo também estão indo para as cidades de Branquinha e de União dos Palmares para avaliar os estragos provocados pelas chuvas e apresentarem relatórios que podem auxiliar na reconstrução dessas cidades futuramente.
No relatório elaborado sobre as enchentes e a destruição em Santana do Mundaú, os técnicos afirmam que o que ocorreu na cidade foi um fenômeno conhecido como flash flood. “Foi uma inundação rápida, com atingimento muito extenso, com grau de destruição importante causado pela chuva intensa e forte nas cabeceiras. Foi uma chuva histórica, com um volume de água muito grande e que carregou tudo o que tinha pela frente”, explicou Maria José.
(Por Elaine Patricia Cruz, Agência Brasil, EcoDebate, 05/07/2010)