O documentário vencedor do Oscar "The Cove", que aborda o massacre dos golfinhos em um povoado do Japão, estreou neste fim de semana em várias salas do país asiático em meio a muita polêmica e os protestos de grupos que o tacham de antijaponês.
Filmado em boa parte com câmeras escondidas no povoado de Taiji (costa leste do Japão), o filme chegou às salas japonesas com uma semana de atraso por causa das mobilizações de nacionalistas radicais que se opunham a sua projeção.
Os protestos e uma agressiva campanha contra o filme fizeram com que os poucos cinemas que tinham anunciado a estreia em 26 de junho optassem por cancelá-la, o que provocou uma onda de críticas e gerou o debate sobre a liberdade de expressão no Japão.
Depois, várias salas das cidades de Tóquio, Yokohama, Osaka, Kioto, Sendai e Hachinone decidiram exibi-lo a partir deste fim de semana para que 'as pessoas possam expressar seu acordo ou desacordo após assistirem', indicou a distribuidora do filme, Unplugged.
E o debate já começou. Ao mesmo tempo em que os espectadores saíam impressionados com as imagens ressaltaram que a carne de golfinho é um prato pouco comum nas mesas do país.
"É um filme muito crítico" e até "grotesco", disse Katsura, um espectador que assistiu em um cinema do popular no distrito comercial de Shibuya.
Para o estudante, o documentário "mudará a opinião de muitos" sobre a caça de golfinhos, embora tenha insistido que a carne destes cetáceos, ao contrário do que possa parecer, é um prato que no Japão "quase não se come".
Os 90 minutos do documentário abordam a viagem para captura dos golfinhos em Taiji, uma localidade litorânea de 3.500 habitantes, onde os pescadores asseguram que a caça desses animais é uma tradição centenária. Os golfinhos são sacrificados para vender sua carne ou vendidos para os aquários de todo o mundo.
As associações de defesa dos animais criticam o massacre: pescadores encurralam golfinhos em águas pouco profundas, que ficam tingidas de vermelho depois que os animais são alcançados com instrumentos de pesca, como mostra o filme do diretor americano Louie Psihoyos.
Em Taiji o êxito internacional de "The Cove" exaltou os ânimos e a comunidade pesqueira alega que o filme deixa espaço para mal-entendidos e apresenta fatos não comprovados como se fossem verídicos.
Um representante do sindicato de pescadores de Taiji lamentou que esta comunidade "não tenha nem dinheiro, nem pessoal suficiente para tomar medidas contra o filme".
"Vivemos vidas ordinárias", declarou à agência "Kyodo".
"The Cove" foi visto na capital japonesa em uma projeção especial em outubro durante o Festival Internacional de Cinema de Tóquio, onde já se previu a polêmica que iria originar entre os defensores das práticas tradicionais.
Neste fim de semana, agentes da polícia patrulharam os arredores de algumas das salas onde o filme foi projetado para evitar manifestações, proibidas pelos tribunais depois que os cinemas de Yokohama e Tóquio apresentaram recurso contra as mobilizações.
Isso não evitou que alguns membros de grupos nacionalistas se reunissem brevemente na região com cartazes, sem o registro de incidentes.
Está previsto que, após sua estreia hoje em seis cidades, outras 16 localidades do Japão levem o filme para suas salas durante os próximos meses.
(Efe, Folha.com, 05/07/2010)