O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento iraniano declarou que a República Islâmica poderá desistir de suas atividades de enriquecimento de urânio caso receba o combustível necessário para manter seu reator de pesquisas em Teerã em funcionamento.
"Segundo o anúncio do Conselho Supremo de Segurança Nacional [encarregado dos assuntos nucleares], se nos for proporcionado o combustível necessário para o reator de pesquisas de Teerã, o Irã não insistirá em prosseguir com a produção deste combustível no interior do país', declarou neste domingo Allaeddin Borujerdi.
As grandes potências criticaram a decisão do Irã, em fevereiro passado, de começar o enriquecimento de urânio a 20%, já que temem que a República Islâmica tente dotar-se de armas nucleares, algo que Teerã desmente, alegando que se trata de um programa nuclear civil.
A última resolução do Conselho de Segurança, adotada em 9 de junho, prevê novas sanções internacionais contra o Irã, país a quem se pede, além disso, o cessar do enriquecimento de urânio.
Teerã propôs em 17 de maio às grandes potências, através de um acordo com o Brasil e a Turquia, trocar em território turco 1.200 kg de seu urânio levemente enriquecido (3,5%) por 120 kg de combustível enriquecido a 20%, destinado ao reator de pesquisas de Teerã.
O país precisa de cerca de 120 kg de combustível enriquecido a 20% para manter funcionando o reator de pesquisas de Teerã, segundo estimativas.
Patéticas
Ainda no sábado (3) o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que as mais recentes sanções contra a República Islâmica são "patéticas", alertando que as potências mundiais se arrependeriam das ameaças feitas.
Em seu primeiro discurso desde que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aprovou novas sanções unilaterais à Teerã, Ahmadinejad afirmou que as medidas não afetariam a economia ou impediriam o país de ter um importante papel nas relações mundiais.
"Eles sabem que há um leão adormecido no Irã que está acordando e se ele acordar todos os relacionamentos no mundo vão mudar", disse ele a industriais. "Esses atos patéticos mostram que eles sabem que há grande poder humano escondido no Irã".
A legislação norte-americana seguiu sanções acordadas pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e da União Europeia, com o objetivo de pressionar Teerã a interromper um programa nuclear que alguns países temem ser destinado à produção de bombas --o que Teerã nega.
"Eles achavam que, se reunindo e falando uns com os outros e assinando documentos, poderiam impedir o progresso de uma grande nação", disse Ahmadinejad.
"O Irã é muito maior do que eles podem perceber em suas mentes pequenas", acrescentou ele. "Sabemos que, se a sociedade iraniana despertar não haverá mais espaço para potências arrogantes, corruptas e ameaçadoras".
O presidente iraniano minimizou consistentemente o impacto das sanções, classificando a resolução da ONU como "um lenço usado" e afirmando que o Irã pode se tornar autosuficiente em gasolina dentro de uma semana, se necessário.
Porta aberta
Também no sábado (3) líderes do G5+1 (EUA, Rússia, França, Grã-Bretanha, China, Alemanha e União Europeia) renovaram sua oferta de diálogo ao Irã, apesar das sanções unilaterais impostas nesta semana pelos Estados Unidos, informou departamento de Estado americano.
"Eles repetiram sua oferta de se reunir com o Irã para discutir sobre o assunto nuclear e enfatizaram que a porta segue aberta", disse Mark Toner, porta-voz do departamento de Estado.
William Burns, subsecretário do mesmo departamento, manteve uma série de reuniões com seus parceiros do G5+1 e com a chefe de diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton.
O objetivo destas reuniões, disse Toner, foi "revisar a situação a respeito do programa nuclear iraniano".
Segundo o porta-voz, todos os países e a União Europeia reafirmaram seu apoio à resolução 1929, tomada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas no mês passado, que estabelece um novo e mais duro regime de sanções a Teerã até que seu programa nuclear seja esclarecido perante a comunidade internacional.
No entanto, também reiteraram que o objetivo do grupo é encontrar uma solução dialogada com o Irã para colocar fim as décadas de hostilidade entre o regime iraniano e o ocidente.
Sanções unilaterais
O presidente dos EUA, Barack Obama, assinou na quinta-feira (1º) o que classificou como "as sanções mais duras contra o Irã já aprovadas pelo Congresso dos EUA". O objetivo é pressionar as importações de combustível ao país persa e penalizar os bancos estrangeiros que fizerem negócio com a República Islâmica.
Os EUA querem pressionar Teerã a suspender seu programa nuclear. Washington suspeita que o programa tenha como objetivo a fabricação de uma bomba atômica, mas o Irã insiste que tem fins meramente pacíficos.
O Senado e a Câmara dos Representantes aprovaram já tinham aprovado o projeto de novas sanções, que precisava apenas ser assinado por Obama.
Alerta
Na última semana, sanções extras à República Islâmica foram aplicadas pelos EUA, pelo Canadá e também pela União Europeia.
O Irã alertou os Estados da União Europeia sobre "consequências desastrosas" por sua decisão de impor sanções adicionais a Teerã por seu programa nuclear.
"Sem dúvidas, tal atitude de confronto pode trazer consequências desastrosas para as relações entre a República Islâmica do Irã e a União Europeia", disse Manouchehr Mottaki, chanceler iraniano, em carta aos chanceleres da UE.
(Folha de São Paulo, 04/07/2010)