A melhor maneira de proteger a flora ameaçada de extinção é vender parques nacionais ineficientes e usar o dinheiro para comprar áreas com maior valor de conservação.
É o que diz Richard Fuller, da Universidade de Queensland, em Santa Lucia, na Austrália. Fuller acredita que substituir 1% das áreas protegidas na Austrália por outras áreas poderia aumentar significativamente o número de tipos de vegetação sob proteção.
No mundo todo, existem 100 mil regiões dedicadas a manutenção da biodiversidade, cobrindo 12% das terras e águas territoriais dos países do globo. "Historicamente, muitas dessas áreas foram conservadas porque não se podia usá-las economicamente, não por seu valor em termos de biodiversidade", diz Fuller. "Consequentemente, muitas espécies e habitats permaneceram protegidos de forma inadequada."
Em algumas áreas protegidas, por exemplo, até 83% das plantas ameaçadas de extinção são também encontradas fora das áreas protegidas.
Fuller afirma que ambientalistas que tentam apenas aumentar o número de áreas protegidas estão "inchando um sistema ineficiente". Em vez disso, diz ele, os governos deveriam vender essas áreas de baixo valor de conservação e comprar novas áreas com mais biodiversidade.
MODELO
Em estudo publicado na revista "Nature", Fuller e sua equipe desenvolveram um modelo matemática para testar sua teoria na Austrália. O grupo dividiu o país em 65 mil seções antes de atribuir um "valor de conservação" a cada uma baseado na raridade da vegetação nela contida. Valores mais altos foram dados para áreas onde houve maiores perdas de vegetação nativa desde 1750, quando os europeus começaram a desmatar.
Em seguida, a equipe dividiu o valor de conservação de cada seção pelo seu valor monetário, possibilitando ordenar as áreas atualmente protegidas em termos de custo-benefício. No modelo, as áreas com menor custo-benefício foram vendidas e o dinheiro foi usado para comprar áreas com maior custo-benefício.
Para que um tipo de vegetação fosse considerado protegido no modelo, 15% da área que esse tipo cobria em 1750 precisa estar em áreas protegidas. Atualmente, somente 18 de 60 tipos de vegetação australiana são protegidas de acordo com essa métrica. Ao substituir no modelo 1% das áreas com menor custo-benefício, o número de tipos protegidas saltou para 54. "Obtemos um crescimento enorme em eficiência sem gastar mais dinheiro", diz Fuller.
Críticos, porém, dizem que sacrificar áreas protegidas baseado somente em tipos de vegetação sem levar em conta animais nativos ou a geografia local é problemático.
(Folha.com, 02/07/2010)