Anteriormente uma bandeira levantada apenas por ambientalistas, a economia de baixo carbono passa agora por uma fase de reviravolta quando uma das maiores propulsoras do uso de combustíveis fósseis convoca uma revolução energética.
A Agência Internacional de Energia em um relatório publicado ontem pede que os governos ajam imediatamente para facilitar o desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono, senão enfrentarão custos muito maiores a longo prazo.
O relatório Perspectivas para Tecnologias Energéticas 2010 alerta que se as emissões de gases do efeito estufa não alcançarem o pico em 2020 e não caírem continuamente até 50% em 2050, a mitigação das mudanças climáticas se tornará muito mais cara e mesmo impossível.
Para conseguir reduzir em 50% as emissões, os investimentos públicos e privados necessários em tecnologias limpas teriam que crescer dos atuais US$ 165 bilhões anuais para US$ 750 bilhões em 2030 e US$ 1,6 trilhões em 2050.
O mix energético contaria com 48% de fontes renováveis, 24% nuclear e 17% seriam provenientes de usinas equipadas com tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS, em inglês).
Sob um cenário business as usual, ou seja, se nada for feito, as emissões de dióxido de carbono dobrariam em 2050 com a perpetuação do fornecimento energético proveniente em mais de dois terços de fontes fósseis, em comparação com o cenário onde elas poderiam ser cortadas pela metade.
O crescimento da demanda por energia seria de 84% no cenário business as usual, porém com a difusão de biocombustíveis de segunda geração e alta melhoria na eficiência energética, a demanda pode ser apenas 32% maior, segundo a AIE.
Para tal, os financiamentos de P&D em tecnologias de baixo carbono precisarão crescer duas a cinco vezes, além do emprego de incentivos de logo prazo como tarifas feed-in (de alimentação da rede), garantias de empréstimos e corte das barreiras de mercado.
Os financiamentos disponíveis para pesquisas, desenvolvimento e demonstração de energias de baixo carbono cresceram em um terço entre 2005 e 2008.
A AIE também recomenda mecanismos de mercado, como certificados verdes e comércio de emissões.
Acelerar a implantação das tecnologias de baixo carbono ao redor do mundo, especialmente em economias de rápido crescimento como o Brasil e a China, ressalta o relatório, é um desafio crítico.
A AIE demonstra que vários países emergentes estão se tornando grandes desenvolvedores, fabricantes e exportadores de tecnologias, o que é vital para garantir “uma revolução tecnológica energética realmente global”.
(Por Fernanda B Muller, Carbono Brasil, Envolverde, 02/07/2010)