Os ânimos andam exaltados pelos lados de Porto Velho, em Rondônia, onde estão sendo levantadas as duas hidrelétricas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau). Ali, os conflitos entre trabalhadores e construtoras já viraram caso de polícia e estão sendo investigados pelo Ministério Público do Trabalho. Entre os questionamentos, estão as condições do ambiente de trabalho.
O último confronto ocorreu em meados de junho, quando os trabalhadores da Usina de Santo Antônio, em construção pela Odebrecht, decidiram cruzar os braços para reivindicar reajuste de 30% dos salários e pagamento de horas extras. A paralisação culminou com a destruição de 35 ônibus e 1 veículo.
Segundo o representante do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil em Rondônia (Sticcero), Danny Bueno, a confusão começou com a discussão entre um encarregado da construtora, que exigia a volta dos trabalhadores, e um operário em greve. O caso teria terminado com a agressão ao grevista e provocado a revolta dos demais. A Odebrecht diz que a informação não procede.
Segundo a construtora, o episódio pode ser traduzido como "atos criminosos provocados por indivíduos, infiltrados e travestidos de trabalhadores, que dissimularam suas verdadeiras intenções através de pseudo reivindicações" e que não refletem a postura de seus trabalhadores. Um inquérito policial foi instaurado para apurar o ocorrido.
Como resultado do quebra-quebra, 70 funcionários foram demitidos por justa causa, afirma a procuradora do Trabalho Michelle Chermont, da Procuradoria Regional do Trabalho da 14ª Região. Ela conta que os funcionários foram impedidos de retornar aos alojamentos e só puderam retirar seus pertences com a presença da polícia. "Quando chegamos lá, os armários haviam sido arrombados e alguns pertences desaparecidos, como dinheiro e roupas."
A procuradora diz que vai entrar com uma ação civil pública contra a decisão da empresa, que não teria provado a participação dos funcionários na confusão. Ela afirma que mais procuradores estão investigando outros casos na construção das usinas.
Bueno, do Sticcero, diz que, além do ocorrido no mês passado, o sindicato tem recebido várias denúncias de assédio moral e assédio sexual nas duas usinas. Segundo ele, a entidade recebe todos os dias entre 15 e 30 denúncias, sendo 30% desse montante de funcionários das duas hidrelétricas. Ele conta que entre os casos relatados está o de mulheres que pegam carona da usina até a capital Porto Velho (distância de 10 km) e no meio do caminho são assediadas. É claro que tudo está sendo investigado, destaca ele. Hoje cerca de 20 mil trabalhadores estão nos canteiros de obras das duas usinas.
Em Jirau, o trabalho não foi paralisado, mas as reclamações também preocupam, afirma o sindicato. Em nota, a Camargo Corrêa, responsável pela obra, afirma que "combate e condena práticas de assédio moral e assédio sexual". A Odebrecht diz que a informação do sindicato não procede. As duas usinas fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e custarão cerca de R$ 20 bilhões.
A expectativa é que iniciem operação a partir de 2012 e 2013. Para cumprir o cronograma, o ritmo de trabalho tem sido pesado, afirmam os trabalhadores. Segundo eles, por causa do clima quente da região, desmaios e vertigens são fatos corriqueiros no dia a dia da obra.
(Por Renée Pereira e Adriel Diniz, Estado de S.Paulo, 02-07-2010)