A uma plateia de grandes produtores rurais, o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, criticou nesta quinta-feira a atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e as invasões de propriedades no campo.
Para o tucano, "o movimento de invasões não é de reforma agrária" e é preciso mostrar no debate desse tema a motivação ideológica do movimento.
"O MST é um movimento que se diz de reforma agrária para na verdade usar a ideia da reforma agrária para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil", afirmou Serra em evento promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade comandada pela senadora Katia Abreu (TO), do Democratas, partido aliado da candidatura do PSDB.
"Não quero reprimir, não. Acho que as pessoas que pensam assim devem ter plena liberdade para propor e para pregar. Só sou contra que usem dinheiro do governo para isso."
Ele também fez uma crítica indireta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do governo: "É preciso ter clareza, não pode uma hora pôr o boné e outra hora tirar o boné."
Serra destacou que a melhor forma de combater a pobreza no campo é aumentar a produtividade dos assentamentos.
"O que tem que fazer é produzir, aumentar a produtividade para combater a pobreza. Muitos assentamentos estão sendo mantidos com cestas básicas, o que é uma ironia, porque esse pessoal tinha que produzir para combater a pobreza", argumentou em seu primeiro compromisso após o anúncio do candidato a vice em sua chapa, deputado Indio da Costa (DEM-RJ).
PROPOSTAS E CRÍTICAS
O candidato também fez outros afagos ao setor, prometendo, se eleito, implementar garantias reivindicadas pelo agronegócio, setor que representa acima de 20 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
"Garanto a vocês que, em quatro anos, vamos ter seguro rural e preços garantidos no Brasil, que funcionem. Nós vamos fazer isso, vamos vencer esta barreira," disse Serra.
Ele criticou a falta de seguro rural e afirmou que os juros para a agricultura e pecuária têm que ser menores. "Se tiver uma política de preços, se podia usar mais recursos do Tesouro para oferecer mais crédito para o setor", disse.
O governo atual possui uma política de seguro rural, mas que é considerada amplamente insuficiente.
Em relação aos preços mínimos, agricultores reclamam da demora do governo em garantir o pagamento dos valores estabelecidos em momentos em que os preços no mercado caem abaixo desses níveis.
Serra defendeu a aprovação de um marco regulatório para a produção de celulose, a produção no Brasil de defensivos genéricos, área que para ele é dominada por um "oligopólio" mundial, melhorias do sistema de defesa sanitária e mecanismos que ofereçam remuneração pela preservação da Amazônia bancados "por quem polui".
"Temos que caminhar para o transgênico verde e amarelo... e não ficar amarrado à propriedade intelectual de fora", acrescentou.
O tucano disse ainda que parte dos produtores rurais brasileiros está perdendo o poder de decisão por dependerem dos financiamentos de tradings multinacionais.
"Daqui a pouco eles vão dizer que tem o risco-Serra em relação a multinacionais de crédito, fundos e tradings. Só quero dizer que todo mundo aqui está de acordo e ninguém acha que é risco-Serra ter uma política diferente com relação a isso."
Serra aproveitou para criticar as ausências da duas outras candidatas --Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV)-- que foram convidadas, mas não compareceram à sabatina.
"Eu quero um bônus. Os outros candidatos não vieram", afirmou, ao pedir mais tempo para sua apresentação, que precedeu as perguntas.
Como em outras palestras suas que versaram sobre temas econômicos, o tucano mencionou os "três recordes mundiais" do Brasil: taxa de juro real "sideral"; a maior carga tributária do mundo em desenvolvimento ("descomunal") e a menor taxa de investimento governamental ("ridículo").
(G1, 01/07/2010)